Por Jonatam Marinho, G1 Sul de Minas –
Pesquisadores de duas universidades federais do Sul de Minas têm realizado estudos com frutas nativas da região para provar seu valor nutricional e desenvolver alimentos funcionais. As pesquisas estão sendo realizadas pelas Universidade Federal de Lavras e de Alfenas com as frutas: araçá, buriti, cajá, cagaita, gabiroba, mangaba, marolo e pequi.
Em Lavras (MG), pesquisadores da Ufla estão desenvolvendo projetos com as frutas que ainda são pouco conhecidas pela população. Um desses estudos é o de sucos com frutas mistas do cerrado.
“Nosso objetivo é fornecer ao consumidor um produto diferenciado. Além disso, os sucos foram enriquecidos com fibras para terem uma designação funcional, e o açúcar substituído por sucralose sem nenhum prejuízo sensorial, tornando o suco diet”, comentou a professora Vanessa Rios de Souza, coordenadora do projeto.
Os sucos funcionais são elaborados especialmente para promover saúde, bem-estar e solucionar sintomas e sinais clínicos individuais. Na primeira etapa do projeto, as pesquisadoras trabalharam com seis frutas do cerrado: araçá, buriti, cajá, cagaita, mangaba e marolo.
“Nós caracterizamos estas frutas nutricionalmente e sensorialmente. Destas seis, selecionamos três e, a partir daí, desenvolvemos dez diferentes formulações de sucos mistos (com diferentes proporções de frutas), utilizando somente a polpa”, explicou a professora doutora, Maria Cecília Schiassi.
Pesquisadores estudam efeitos nutricionais de frutas nativas do Sul de Minas — Foto: Divulgação/UFLA
Além dos sucos, os cookies de frutos do cerrado também ganharam a vez em Lavras. Para isso, a farinha de trigo virou farinha com pequi, marolo e gariroba. Segundo o coordenador do Núcleo de Estudos em Pós-colheita de Frutas e Hortaliças (NEPC), Eduardo Valério Vilas Boas, a nova farinha leva composições de 20% dos três frutos do cerrado.
Na comparação com a farinha de trigo, por exemplo, pães e biscoitos fabricados com as farinhas desses frutos do cerrado supriram a debilidade nutricional encontrada no produto tradicional.
“O pão convencional fornece praticamente só amido, que se torna energia para o organismo. Ou seja, é fonte de calorias vazias, apenas engorda”, ressaltou Vilas Boas.
Ainda de acordo com o pesquisador, por meio dos testes feitos em laboratório foi comprovado que o pão enriquecido aumenta a ingestão de fibras e pode ser usado por pessoas diabéticas.
“Consequentemente, elas reduzem o colesterol e o índice glicêmico no sangue, o que pode ser pensado para a dieta dos diabéticos”, apontou.
Pesquisadores desenvolvem produtos com frutas nativas da região — Foto: Divulgação/UFLA
Em Alfenas (MG), as pesquisas sobre frutas nativas do cerrado estão direcionadas ao marolo (Annona Crassiflora) e sua importância econômica para a cidade de Paraguaçu (MG), conhecida como a “Terra do Marolo”.
Um dos estudos desenvolvidos é do professor de Tecnologia de Alimentos da Unifal, Bruno Martins Dala Paula. Segundo a pesquisa, o consumo de marolo tem efeitos funcionais e contribui para a longevidade do ser humano. Isso porque a fruta tem uma substância chamada “espermidina”.
“A fruta é fonte de espermidina, uma poliamina que desempenha inúmeras funções na saúde humana, tendo inclusive pesquisas recentes a associando com a longevidade humana”, explicou.
Desde 2010, a historiadora Gilmara Aparecida de Carvalho é parceira das universidades da região e também integra a Associação Terra do Marolo, que começou o trabalho de cultivo da fruta na cidade. Ela contou que a ideia do projeto é valorizar as frutas do bioma cerrado e a cultura do marolo no município.
“Desde que começamos a trabalhar, a visão sobre o marolo mudou muito em Paraguaçu e na região. O pessoal tem plantado marolo em viveiros de mudas. Aqui em Paraguaçu, a fruta também tem um lado cultural bem forte. Em 2010, fizemos a primeira festa do marolo e, no ano passado, tivemos a 11ª edição”, disse.
Todos esses anos de trabalho com a fruta também permitiu um resgate da identidade local.
“Hoje, os integrantes da comunidade sentem orgulho de serem chamados de “maroleiros. Antes esse apelido era pejorativo, era visto como uma coisa negativa. Hoje sentimos orgulho”, recordou.
Um dos estudos desenvolvidos é com o marolo, fruta típica de Paraguaçu (MG) — Foto: Divulgação
Enquanto no Sul de Minas estas frutas são pouco consumidas e ainda estão sendo estudadas, em regiões como o norte do estado as pessoas já começaram a consumir alimentos derivados de frutas nativas do cerrado.
Segundo o pesquisador, Eduardo Vilas Boas os frutos do cerrado têm grande potencial econômico, assim como a pitaya. A fruta, segundo ele, pode ter o quilo vendido à R$ 20 enquanto a banana fica em torno de R$ 3, o que é bom para os produtores.
O alto valor se deve ao baixo consumo das frutas na região. Ele acredita que elas não são populares por uma questão de hábito e por força do modelo de monocultura dos tempos atuais.
Ele explicou que houve uma pressão econômica para o plantio de espécies que geravam mais renda e pastagens para rebanhos.
“Essas espécies nativas eram pouco valorizadas na época e foram deixadas de lado. Nossos pais e avós já consumiam esses produtos. As monoculturas dominaram os espaços destinados ao cultivo. A vegetação nativa foi cortada e acaba se perdendo. Muitos jovens não conhecem essas frutas”, afirmou.