Um diagnóstico inicial das plantações da nogueira-pecã nos estados do sul do País subsidiou o registro de reconhecimento da cultura no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Executado por pesquisadores da Embrapa Clima Temperado, no Rio Grande do Sul, o trabalho científico permitiu oficializar a produção, que agora poderá contar com insumos específicos, como o registro de defensivos químicos próprios para esse cultivo. A noz-pecã recebeu em novembro de 2018 o registro de culturas com suporte sanitário insuficiente (CSFI), conhecidas também como minor crops, que regulamenta o uso de agrotóxicos em culturas consideradas pequenas ou especiais.
Planta típica de clima temperado, a nogueira-pecã foi introduzida no Brasil há mais de 100 anos e permaneceu na informalidade durante todo esse tempo. A ausência de seu registro no Ministério da Agricultura dificultava o desenvolvimento da cadeia produtiva, que não podia contar com a indicação técnica de defensivos químicos para a cultura, cujo fruto é valorizado, especialmente no exterior.
“Até então, não se podia utilizar defensivos químicos para controle de doenças da nogueira porque ela não estava registrada. Após o registro, será possível facilitar a vida de muitos produtores”, prevê o pesquisador da Embrapa Carlos Roberto Martins, que coordena o projeto científico. Segundo ele, isso também irá contribuir para que as empresas de insumos possam registrar produtos químicos ou de controle biológico a serem utilizados na cultura.
Zoneamento edafoclimático da noz-pecã
Os cientistas mapearam as principais lavouras, identificaram as cultivares mais utilizadas pelos produtores e catalogaram os tipos de frutos produzidos, além de coletar outros dados em propriedades de diferentes portes que usam sistemas de produção variados. O estudo também está fazendo o zoneamento edafoclimático da cultura, que deve ser concluído em 2020. O trabalho científico ainda inclui a identificação e as soluções de manejo fitossanitários dos pomares, bem como a promoção de ações de intercâmbio entre pesquisadores, extensionistas e produtores rurais.
“Nós recebemos uma demanda dos produtores da noz-pecã e de outras instituições interessadas. Estamos reunindo dados para compor um panorama da situação atual da cultura no País, sua relação com o mercado e identificação de gargalos produtivos”, esclarece o pesquisador da Embrapa. E acrescenta que o Brasil tem interesse em conhecer as pesquisas com noz-pecã conduzidas em países vizinhos, como as executadas pelo Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina e pelo Instituto Nacional de Pesquisa Agropecuária do Uruguai. Em abril deste ano, os três países iniciaram uma aproximação com a realização do primeiro Simpósio Sul-Americano da Cultura da Noz-Pecã, ocasião em que debateram a possível instalação de uma rede de pesquisa internacional sobre a cultura.
Segundo o pesquisador, no Rio Grande do Sul foram registrados 5 mil hectares de cultivo comercial de área plantada, mostrando que a pecanicultura está presente em 30% dos municípios gaúchos. “Se formos contabilizar produtores em pequena escala, esse número com certeza é maior”, calcula Martins.
A visita científica às propriedades também serviu para evidenciar problemas de cultivo e manejo dos pomares. “Percebemos que as plantas estão sendo cultivadas em locais inadequados, o que afeta a produtividade e a qualidade das nozes. Essas informações, que vamos refinar, poderão orientar os produtores, informando sobre os melhores locais de plantio a fim de favorecer o desenvolvimento das plantas”, informa o pesquisador, frisando que os problemas encontrados serão relacionados a soluções já desenvolvidas pela pesquisa e também irão pautar trabalhos científicos futuros.
O projeto prevê estudos de caracterização morfológica, taxonômica e molecular para que os produtores possam utilizar materiais identificados. Pretende ainda indicar materiais nativos que possam ser incorporados às possibilidades de cultivo. Além disso, um documento técnico está em elaboração para apresentar a diversidade varietal da noz-pecã em diferentes sistemas de produção na Região Sul do País.
Somado a tudo isso, a nogueira-pecã se consolida como uma das poucas culturas alternativas para a entressafra de outras frutíferas no Brasil.
Benefícios da cultura de entressafra
A nogueira-pecã possui atrativos como o fato de ser uma cultura de entressafra, ou seja, está disponível ao mercado em abril e maio, quando outras frutíferas já não produzem . “Isso reforça os benefícios do cultivo como alternativa de renda, facilitadora no escalonamento da mão de obra e fonte de alimento excepcional”, elogia Martins. Ele frisa que a cultura pode ser explorada por pequenos, médios e grandes empreendimentos rurais, mas é uma frutífera recomendada especialmente para os produtores de menor porte, como alternativa de diversificação da produção, pois convive bem com outras culturas e está presente próximo a moradias, rebanhos, aviários, etc. A nogueira entra em produção do sexto ano em diante e, na região Sul, atinge plena produção no décimo ano de cultivo”.
Noz-pecã com vegetação nativa
A legislação brasileira também permite seu plantio em áreas de reserva legal, intercalada com árvores nativas, oferecendo mais uma possibilidade de obtenção de renda nesses locais, preservando o meio ambiente.
Um detalhe que a diferencia das características das frutíferas mais comuns ao consumidor, como maçã, pera e pêssego, por exemplo, é a sua longevidade. Na região Sul, há inúmeras plantas que ultrapassam 50 anos, algumas têm mais de um século. No município de Anta Gorda, RS, há árvores antigas em plena produção.
Para o pesquisador, a nogueira-pecã carrega ainda o apelo de ser passada de uma geração a outra da família produtora. “Essa simbologia da longevidade, na prática, é o que mais acontece: pais passando para filhos a forma de cultivar, de diversificar sua atividade produtiva e até de criar empreendimentos para se tornar um negócio”, destaca. “Planta-se uma vez a nogueira-pecã e essa planta produzirá por muitos anos.”
Fonte: Embrapa Clima Temperado – Cristiane Betemps