(matéria publicada em 10/06/2016 – Agrolink)
A castanheira-do-brasil (Bertholletia excelsa Bonpl., Lecythidaceae) é uma das árvores mais exuberantes da floresta amazônica, podendo alcançar até 50 metros de altura. Produz frutos esféricos chamados ouriços, com uma casca muito rígida, difícil de abrir, com de 10 a 25 sementes (amêndoas) saborosas que podem ser consumidas in natura ou industrializadas. São ricas em proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas e selênio, e apreciadas no mundo todo.
Tem papel de destaque na sociobiodiversidade amazônica, em razão de seu uso múltiplo, especialmente como Produto Florestal Não Madeireiro desde a pré-história (Nascimento et al. 2010). O comércio secular dessa castanha é o único em que sementes são coletadas quase exclusivamente nas florestas naturais e negociadas internacionalmente (Zuidema & Boot 2002).
Até hoje, a maior parte das castanhas que consumimos ainda vem das áreas extrativistas, mas já se produz até 5% em áreas cultivadas, em modelos de cultivo consorciado (sistemas agroflorestais) ou monocultivo, e têm apresentado um excelente desempenho agronômico, despontando como alternativa para a recomposição das Áreas de Preservação Permanentes nas propriedades rurais (Homma et al. 2014).
Polinização
A Rede sobre Polinização da Castanheira-do-brasil é um projeto financiado pelo CNPq (processo nº 556406/2009-5) que se juntou ao Projeto Global sobre Polinizadores apoiado pelo GEF/UNEP/FAO/MMA e Funbio, e promoveu avanços no conhecimento sobre a biologia da polinização, a estrutura genética e a biologia floral desta espécie símbolo da Amazônia.
A polinização é um serviço ambiental que, quando não encontra barreiras, forma frutos e sementes em maior quantidade, e com melhor qualidade, ou seja, frutos maiores, mais bonitos, mais saborosos, mais atrativos aos consumidores, e, portanto, com maior valor de mercado (Free 1993). De cada três alimentos que consumimos, um depende direta ou indiretamente dos serviços de polinização prestados pelos animais (McGregor 1976; Klein et al. 2007), e destes, um terço faz parte da nossa dieta e da alimentação dos animais silvestres (Mader et al. 2010).
As flores da castanheira têm uma morfologia peculiar, e com isso, selecionam os visitantes que tentam acessar os recursos florais oferecidos (néctar é pólen). Existe uma estrutura robusta formada por um conjunto de estaminódios que fecha a abertura da flor. Apenas as abelhas com capacidade para levantar esse capuz conseguem coletar os recursos guardados no interior da corola (Maués 2002, Cavalcante et al. 2012).
Estudos prévios mostravam que trata-se de uma espécie dependente da polinização cruzada para que ocorra a fertilização das flores e formação de frutos e sementes (Moritz 1984). A riqueza de polinizadores da castanheira-do-brasil é enorme e totalmente formada por abelhas nativas. Mais de 25 espécies de abelhas nativas de médio a grande porte (tamanho variando entre 2,5 cm a 4 cm) são responsáveis pelo fluxo de pólen entre as árvores da castanheira, derrubando teorias de que a castanheira dependeria de uma única espécie de abelha para se reproduzir, espécie esta só encontrada em áreas de floresta.
Entre as mais de 25 espécies de polinizadores da castanheira, destacam-se os gêneros Bombus, Centris, Eulaema, Eufriesea, Epicharis e Xylocopa (Müller 1981; Maués 2002, Cavalcante et al. 2012). As espécies mais frequentes foram Xylocopa frontalis, Eulaema bombiformis, Eulaema mocsaryi, Centris denudans e Bombus transversalis (esta espécie mais comum no estado do Pará). Essas abelhas são capazes de voar longas distâncias, e quando pousam na flor forçam a abertura do capuz com movimentos vigorosos das pernas anteriores, abaixando o capuz e ccnseguindo entrar total ou parcialmente na câmara corolífera. Dessa forma, conseguem coletar pólen e néctar.