As cultivares são: BRS Lua do Cerrado; BRS Luz do Cerrado, BRS Granada do Cerrado, BRS Minipitaya do Cerrado e BRS Âmbar do Cerrado.
Foto: Alexandre Veloso / Embrapa
A Embrapa Cerrados desenvolveu cinco cultivares de pitaya geneticamente superiores: BRS Lua do Cerrado; BRS Luz do Cerrado; BRS Granada do Cerrado; BRS Minipitaya do Cerrado e BRS Âmbar do Cerrado. Essas são as primeiras cultivares de pitayas registradas no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e chegam ao mercado para uniformizar e organizar a produção desse fruto que a cada dia conquista produtores e consumidores pelo País.
Resistentes a doenças, as novas cultivares apresentaram bom desempenho nos pomares, mesmo sem a aplicação de químicos. Essa característica as torna aptas para o cultivo orgânico, além de gerar menor impacto ambiental e financeiro na produção. Os frutos são bem doces, de polpa firme e as plantas apresentam manejo simples, bom produtividade e baixo custo de produção.
Histórico da pesquisa
Os lançamentos são resultado de um trabalho que se iniciou na década de 1990, a partir da seleção de espécies com maior potencial comercial e, também, de cruzamentos realizados entre e dentro de diferentes espécies. No início dos trabalhos, a Embrapa Cerrados chegou a formar um banco de germoplasma (coleção de diferentes acessos da espécie) com 400 genótipos diferentes. “A maior parte dos materiais foi coletada no Cerrado e, outros, doados por colecionadores de cactáceas”, conta o pesquisador da Embrapa Nilton Junqueira, pioneiro nas pesquisas com pitaya no Brasil.
O banco de germoplasma continha diferentes espécies de pitayas de centenas de clones de plantas matrizes que foram caracterizadas e selecionadas. O objetivo das pesquisas foi selecionar espécies com maior potencial comercial e, dentro delas, as plantas com maior produtividade, maior resistência a doenças, e melhor qualidade física e química dos frutos. “Também foram selecionadas plantas autocompatíveis e autoférteis, ou seja, que produziam frutos sem a necessidade da polinização manual”, explica Junqueira.
A fruta do dragão
Também conhecida como fruta-do-dragão, por causa de sua aparência escamosa, as pitayas têm origem na América tropical e subtropical, incluindo o Brasil. O País possui uma espécie nativa, a Selenicereus setaceus, conhecida como Saborosa, de sabor aprimorado, uma vez que combina doçura com acidez. Além dessa espécie nativa, temos a Selenicereus costaricensis, que possui a casca vermelha e a polpa roxa. Essa e a Selenicereus undatus, pitaya de casca vermelha e polpa branca, são as que possuem maior expressão comercial. Há, no entanto, uma diversidade grande de outras espécies, como a Selenicereus megalanthus, que é a pitaya de casca amarela e polpa branca, bem mais doce do que as demais.
O cultivo da pitaya é recente aqui e no mundo, mas está em franca expansão. Comercialmente, começou a ser plantada no País nos últimos 20 anos. Atualmente, o Brasil está entre os dez maiores produtores; no topo da produção estão o Vietnã e a China. Além de ser uma fruta bonita e vistosa, a pitaya também é funcional, por possuir características benéficas para a saúde. Ela é rica em fibras, vitaminas, minerais e antioxidantes. O fruto pode ser consumido in natura e em diversas receitas. A casca também pode ser consumida e utilizada para extração de corantes e outros produtos agroindustriais. A planta produz uma flor grande e bonita, que abre à noite e que possui potencial ornamental.
Sem necessidade de polinização cruzada
O pesquisador Fábio Faleiro, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, enfatiza que a autocompatibilidade, ou seja, a capacidade de a planta produzir frutos sem a necessidade da polinização cruzada foi um ponto importante da pesquisa. “Todas as cinco cultivares que estão sendo lançadas possuem essa característica. Isso representa um aspecto muito positivo no manejo da cultura. É ganho de tempo e de qualidade de vida para os produtores, que não precisam mais acordar de madrugada para fazer a polinização manual”, ressalta.
As linhas de pesquisa com pitaya seguiram durante esses últimos anos em duas frentes. A primeira relacionada ao desenvolvimento de variedades geneticamente superiores, ou seja, mais produtivas, mais resistentes a pragas e doenças, teor de açúcar que atenda ao gosto do consumidor, além da autocompatibilidade. Já a segunda frente desenvolveu o sistema de produção, cujos resultados geraram um conjunto de recomendações relacionadas à produção de mudas, plantio, podas de formação e produção, sistemas de tutoramento das plantas, adubações de plantio e de cobertura, além da irrigação, colheita e processamento dos frutos.
Validação de norte a sul do País
As cultivares desenvolvidas pela Embrapa foram validadas em todas as regiões do Brasil, com base numa rede de parceria público-privada. De acordo com Faleiro, os trabalhos são muito importantes para confirmar o potencial agronômico dessas cultivares em variados tipos de solo, de clima, e em sistemas de produção convencionais e orgânicos. “Nesse trabalho, são montadas unidades demonstrativas e de referência tecnológica em condições comerciais diversas. E os produtores e parceiros avaliam o desempenho agronômico das cultivares nas suas regiões”, explica.
Uma das empresas parceiras a testar os materiais foi o Recanto das Pitayas, de Turvo (SC). A validação no local começou em 2015. “Os resultados obtidos foram bastante promissores e atenderam à principal dificuldade que os agricultores vinham sentindo no cultivo, que é a questão da polinização manual”, destaca a engenheira agrônoma da propriedade, Cristine de Abreu.
“Essas cultivares possuem frutas mais lisas, com escama mais rala. São muito boas para se lidar. Além de serem 100% autoférteis. Elas vieram mesmo para ficar”, afirma o produtor Volnei Feltrin. Já o produtor Valmirei Feltrin destaca a resistência das variedades a doenças. “Nossas plantas estão sadias. Mesmo não tendo sido aplicada pulverização, não deu nenhuma doença. Esses materiais são excelentes opções para plantio orgânico”, indica. Ele e o irmão Volnei estão à frente do Recanto das Pitayas.
A experiência positiva com as novas cultivares tem se repetido de sul a norte do País. “As variedades da Embrapa têm se adaptado bem à nossa região e estão se tornando mais uma opção para os fruticultores do Vale do São Francisco”, destaca Éder Inácio, engenheiro-agrônomo e fruticultor em Petrolina (PE). O extensionista da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) Geraldo Magela concorda. “A pitaya é uma alternativa para aumentar a renda da propriedade rural. As cultivares desenvolvidas pela Embrapa são mais produtivas e de sabor diferenciado; além disso, não necessitam de polinização manual, o que é uma característica muito buscada pelos produtores”, salienta.
Testes na Região Norte
As novas cultivares também estão sendo validadas na fazenda Toca da Pitaya, em Manaus (AM). A Embrapa está avaliando no local a capacidade produtiva, manejo nutricional e fitossanitário e a determinação de coeficientes técnicos dos novos materiais. De acordo com o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) Marcos Garcia a pitaya tem a vantagem de ser uma planta rústica e muito bem adaptada ao Amazonas. Outro ponto favorável da cultura, segundo o especialista, é que o cultivo da pitaya é uma atividade que não exige grandes áreas.
“O cultivo da pitaya pode contribuir com a sustentabilidade no Amazonas, por ser uma planta semiperene e ter um tempo de vida longo. Isso permite que se plante em sistema adensado e em pequenas propriedades de agricultores familiares”, explica Garcia. Ele conta que na fazenda Toca da Pitaya são cultivadas, aproximadamente, 7 mil plantas por hectare, ou seja, com o adensamento se tem maior produtividade em menor área. A propriedade possui mais de 120 mil pés de pitaya em cerca de 25 hectares.
De acordo com Faleiro, as experiências de sucesso desses produtores permitem a recomendação das cultivares para outros produtores dessas regiões, o que representa maior segurança no investimento nos pomares. “Com base nos trabalhos de validação, podemos dizer que é possível o cultivo das pitayas do Rio Grande do Sul até Roraima, sempre utilizando as cultivares recomendadas e o adequado sistema de manejo do pomar”, ressalta.
Lançado pela Embrapa Cerrados (DF) no último dia 27 durante a feira de tecnologias AgroBrasília 2023, o livro Pitaya: 200 formas de utilização em receitas doces e salgadas mostra que, além do consumo in natura, é possível fazer o aproveitamento total da pitaya, do caule (cladódios) aos frutos (polpa, casca e sementes). A publicação, que pode ser baixada gratuitamente, apresenta receitas práticas, fáceis e rápidas de doces, pratos salgados, sucos, bebidas, saladas, além de uma seção especial com opções veganas.
Conhecida mundialmente como ‘fruta-do-dragão’, a pitaya é considerada no Brasil uma fruta exótica por ser ainda pouco conhecida. Fruta exuberante e rica em vitaminas, sais minerais e fibras, é comercializada com alto valor, principalmente no mercado de frutas especiais, além de ser uma ótima opção de ingrediente para diferentes receitas doces e salgadas.
O livro traz receitas elaboradas com as cinco primeiras cultivares de pitayas registradas no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), também lançadas pela Embrapa na AgroBrasília no dia 24 de maio – BRS Luz do Cerrado e BRS Lua do Cerrado (pitayas vermelhas de polpa branca); BRS Granada do Cerrado (pitaya vermelha de polpa roxa); BRS Minipitaya do Cerrado (pitaya vermelha de polpa branca) e BRS Âmbar do Cerrado (pitaya amarela de polpa branca e sabor bem adocicado).
Fábio Faleiro, chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, explica que o cultivo comercial da pitaya é muito recente no País, iniciado há cerca de duas décadas. “A demanda tem crescido ao longo do tempo e vários consumidores estão conhecendo essa fruta, principalmente devido às suas características nutricionais e funcionais. É uma fruta rica em fibra, com efeitos positivos na regulação do sistema digestivo, no controle da glicose e do colesterol ruim”.
Primeira editora do livro, a bolsista Jamile Oliveira conta que começou a conceber a publicação em 2014, ano em que ingressou na Embrapa Cerrados para trabalhar com maracujá e foi convidada a também apoiar as pesquisas com pitaya, fruta que lhe chamou a atenção pela beleza e pelo sabor.
“É um fruto muito versátil e bonito, mas muitas pessoas ainda não sabem como utilizá-lo, a não ser no consumo in natura. Ao fazermos os descritores da pitaya para registro no Mapa, sobrava muito material. Começamos a pensar em como fazer, após as análises físico-químicas no laboratório, o aproveitamento da polpa, da casca e de tudo o que sobrava. Com isso, as primeiras receitas foram surgindo. Primeiro, as mais fáceis e rápidas como os sucos, depois fomos elaborando mais. Outras pessoas foram chegando e participando com ideias”, recorda, acrescentando que ela e os colegas também elaboravam arranjos e cestas de Natal com os frutos e algumas receitas.
“A culinária está ligada à criatividade e à beleza”, observa Jamile, que com apenas seis anos de idade criou uma receita de geleia de acerola. Mais tarde, ela usou esse conhecimento nas receitas de geleias de pitaya, elaboradas após as dos sucos.
Além das geleias, que podem ser armazenadas na geladeira por cerca de um mês, o livro também traz receitas doces de compotas (feitas a partir da casca das pitayas BRS Granada e BRS Âmbar do Cerrado), cocadas (com o cladódio), mousses, cremes, pavês, iogurtes, bolos e sorvetes.
Já as receitas salgadas compreendem massas, refogados, risotos, tortas, nhoque e molhos, que segundo a bolsista são muito práticos. “O molho da pitaya pode ser usado em massas assim como o molho de tomate. A diferença é que você ajusta a acidez do molho de tomate com açúcar, e no caso do molho de pitaya é preciso usar um pouco de sal, vinagre ou limão para acentuar a acidez”, explica.
Entre as receitas de saladas, há opções tropicais e coloridas, combinando pitayas com folhosas e até castanhas. Também muito práticas são as receitas de sucos, que podem ser de frutas nativas com pitaya, tropicais e temperados. “Como a pitaya tem baixa acidez, precisamos misturá-la com outra fruta mais ácida, como maracujá, limão e abacaxi”, comenta.
Além dos sucos, o livro traz outras bebidas com pitaya: drinks, caipirinhas e licores. “Testamos as bebidas quando alguém fazia algum evento em casa e os drinks fizeram muito sucesso, como o Doce Mel, feito com a pitaya amarela (BRS Âmbar do Cerrado). No livro, todas as receitas foram feitas com água com gás, mas você pode adicionar uma bebida alcoólica, conforme as dicas”, diz Jamile.
Por fim, há um capítulo dedicado a receitas veganas de pães, iogurtes, shakes, chás, mousses, tortas e crepes. “Uma das formas mais fáceis de utilização são os chás, feitos com o pó da casca da pitaya”, aponta. “Estamos usando tudo da pitaya, desde o cladódio até a polpa e a casca, que é utilizada em vários momentos em receitas doces e nas receitas veganas para colorir massas e iogurtes, além de trazer cor e aroma aos chás”, finaliza.
Além do sabor e do aroma, as receitas apresentadas no livro também encantam pelo visual. A ex-bolsista e também editora da publicação Isabella Viana foi responsável pela produção de quase todas as fotos ilustrativas dos pratos e bebidas.
“Pensamos nesse livro porque sempre me perguntavam o que dava para fazer com a pitaya. E tem muita coisa! Temos agora a oportunidade de apresentar tudo isso ao público de forma gratuita. Fizemos muitas degustações até chegarmos a essas 200 receitas finais. A cada dia que eu tirava uma foto diferente, me apaixonava mais”, conta.
Os frutos fotografados por Isabella são provenientes dos experimentos conduzidos na Embrapa Cerrados com o apoio do técnico Geovane de Andrade. Ele lembra que por ser uma cultura pouco difundida no País, a equipe teve que aprender junto com alguns produtores e parceiros.
“E aí está mais uma cultura frutífera para a sociedade, como tantas outras tecnologias que a Embrapa tem de A a Z, não só em melhoramento genético mas no bom aproveitamento da biodiversidade brasileira. Quem está acompanhando o trabalho com o livro de receitas vai nos ajudar a difundir a cultura da pitaya Brasil afora”, diz Andrade.
Segundo Fábio Faleiro, a expectativa com a publicação é de não apenas estimular o consumo da pitaya pela sociedade, mas também atrair a atenção da agroindústria de alimentos, envolvendo o processamento da polpa. “Acreditamos que o desenvolvimento e o fortalecimento da cadeia produtiva da pitaya passa também pelo setor agroindustrial”, afirma.
Fonte: Embrapa