Apesar dos baixos estoques de suco de laranja ao final da safra 2016/17 e projetados para o final da safra 2017/18, não houve nem deve haver recuperação nos preços da matéria-prima adquirida pela indústria processadora. Em outras palavras, os preços pagos aos citricultores continuam sendo impostos pelo setor industrial, conforme acentua Flávio Viegas, presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), em artigo publicado na edição de agosto/setembro do boletim da entidade.
Viegas argumenta:
A recuperação da produção não deveria ter um impacto importante sobre os preços da laranja em vista dos baixos estoques de suco no Brasil. Nas estimativas publicadas no Gain Report BR17004 de 6/9/2017, os estoques de suco no início desta safra estariam em 24 mil toneladas, enquanto seria necessário um estoque superior a 300 mil toneladas, e a estimativa é que apesar de um crescimento de quase 60% na quantidade de fruta processada, os estoques atingiriam, no final desta safra 100 mil toneladas, 1/3 do estoque necessário para atender a demanda.
E acrescenta:
Porém, apesar do TCC assinado no CADE, onde as empresas obrigatoriamente teriam confessado a participação no cartel e assumido o compromisso de interromperem a prática criminosa, verifica-se que a precificação da laranja continua a não ser determinada pelo mercado e sim pelo poder de mercado das processadoras.
A parte final do artigo é reproduzida a seguir:
Verifica-se que a concentração aliada à verticalização e a décadas de atuação concertada permite que haja uma coordenação tácita no setor no sentido de evitar a concorrência para manter baixos os preços da laranja.
As indústrias voltaram a atuar no sentido de reduzir o preço da laranja no mercado interno, oferecendo laranja colhida e posta no caminhão do comprador a R$17,00 por caixa, enquanto os preços pagos ao produtor estiveram na faixa de R$ 20,00 a R$ 44,00, na árvore, nos últimos 12 meses. Essa atuação, que poderia ser considerada positiva para o mercado, é na verdade altamente lesiva ao bom funcionamento do setor, pois subordina o mercado de fruta fresca ao setor industrial e mantém o mercado interno como uma reserva estratégica da indústria, além de fragilizar os produtores de fruta de mesa que têm custos mais altos para produzir a fruta exigida por este mercado.
No gráfico abaixo, pode-se ver claramente o resultado do poder de mercado sobre os citricultores, exercido pelas processadoras, caracterizado pelo retardamento do compartilhamento dos ganhos e a antecipação das perdas, como vem ocorrendo há décadas. No gráfico, observa-se também a enorme discrepância entre os preços registrados nos embarques em Santos e o preço do suco no mercado europeu, destino principal de nossas exportações.