Também conhecido como cumbaru ou cumaru, o baruzeiro é uma árvore de altura entre 15 a 25 metros com ampla distribuição no Cerrado. Essa é uma das espécies nativas do bioma com grande potencial econômico pela sua diversidade de usos. A polpa do fruto pode ser consumida in natura ou em misturas e o endocarpo pode ser transformado em carvão de alto teor calorífico. Já a semente é a parte mais conhecida e tem ganhado valor de mercado, sendo usada na gastronomia nacional e internacional. Ela se assemelha a uma castanha, sendo apreciada como aperitivo e usada em diversas receitas. O óleo extraído da semente também tem usos variados. A árvore pode ser usada em paisagismo e sua madeira tem grande resistência e durabilidade.
O baruzeiro é uma das espécies do Cerrado mais promissoras para cultivo. A geração de informações sobre sua multiplicação, crescimento, desenvolvimento, produtividade e variabilidade permitirá sua domesticação para implantação de cultivos comerciais. Atualmente, praticamente toda produção vem do extrativismo.
Foto: Alexandre Veloso
Foram testados três tipos de enxertia (borbulhia de placa, garfagem inglês simples e fenda cheia) em três sistemas de condução de mudas de porta-enxertos (em sacos plásticos a pleno sol e sob sombrite e em tubetes em viveiro suspenso a pleno sol). As mudas (porta-enxertos) foram formadas a partir de sementes coletadas de plantas adultas de baruzeiro do Campo Experimental da Embrapa Cerrados. As gemas usadas para os enxertos foram obtidas de árvores adultas da Embrapa.
Como é feita a enxertia?Uma grande parte das árvores frutíferas é produzida por enxertia. Além de manter as características desejáveis para a planta resultante, é um meio rápido e confiável de reproduzir plantas de qualidades superiores para cultivo comercial. A operação envolve a introdução de uma gema, broto ou ramo de um vegetal, chamado de enxerto ou cavaleiro, em outro, conhecido como porta-enxerto ou cavalo. A planta enxertada (cavaleiro) carrega as características que se quer obter na nova planta e é ela que vai produzir os frutos. O cavalo leva o sistema radicular e parte do caule. Ele é responsável pelo fornecimento de água e nutrientes à planta e garante sua adaptação às condições de solo e clima. |
Foto: Wanderlei Lima (fenda cheia)
O desempenho das plantas foi diferente de acordo com o sistema de condução. “Consideramos o sistema de produção de mudas em saco plástico a pleno sol o melhor, com o qual conseguimos mais de 50% de pegamento nos três tipos de enxertia que utilizamos em nosso estudo, com destaque para borbulhia, seguida da garfagem inglesa simples e da garfagem em fenda cheia”, informa Lima.
Segundo o pesquisador, apenas a garfagem em fenda cheia apresentou pegamento superior a 50% para mudas conduzidas sob sombrite, indicando ser uma técnica para a reprodução da espécie nessa condição. Entretanto, o tempo necessário para as mudas atingirem o diâmetro ideal para a enxertia foi maior nos sistemas sob sombrite. Considerando que as mudas foram formadas no mesmo dia, as mudas enxertadas sob sombrite só atingiram o diâmetro ideal três meses depois das mudas conduzidas a pleno sol.
Essa é uma importante informação para a multiplicação e a domesticação da cultura, já que quanto maior é o tempo para que a muda atinja o diâmetro ideal para a realização da enxertia, maiores são os gastos nessa etapa. Sobre o terceiro sistema de condução, Lima esclarece: “Optou-se, neste estudo, por não realizar a enxertia das mudas conduzidas em tubetes, em viveiro suspenso, pois essas apresentaram os piores desempenhos de crescimento e desenvolvimento”.
O pesquisador considera esse um resultado bastante positivo: “Sendo um primeiro experimento, os valores foram muito satisfatórios. Nosso objetivo é chegar a 80% com o refinamento da técnica e a verificação de alguns fatores que podem ter interferido no desenvolvimento das mudas”. Lima ressalta que o experimento foi realizado durante o período mais crítico da pandemia de Covid-19, quando vários trabalhos ficaram comprometidos.
A partir dos resultados desse experimento, uma recomendação da pesquisa para os interessados em produzir mudas de baruzeiro é refazer as enxertias que não pegaram. “Isso garante a redução de custos de produção, já que reutiliza as mudas dos porta-enxertos”, esclarece.
A propagação vegetativa ou clonagem tem se mostrado uma excelente ferramenta para produção florestal no Brasil, proporcionando aumento da produtividade de florestas plantadas com espécies não nativas. Mas seu uso em espécies arbóreas nativas ainda é incipiente.
Resultados da pesquisa mostram viabilidade de três tipos de enxertia – borbulhia de placa, garfagem inglesa simples e garfagem em fenda cheia – para o desenvolvimento de um sistema de produção para o baruzeiro. A enxertia, técnica de propagação vegetativa para produção de clones, mostrou-se viável para a multiplicação do baruzeiro. Os trabalhos recentes conduzidos no viveiro da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF), vêm apresentando resultados promissores para três tipos de enxertia – borbulhia de placa, garfagem inglesa simples e garfagem em fenda cheia. Para as mudas conduzidas a pleno sol, os três tipos proporcionaram médias de pegamento superiores a 50%, com destaque para borbulhia, que obteve pegamento de mais de 60%.
Esses são os primeiros resultados para o desenvolvimento de um sistema de produção para o baruzeiro. “Salientamos que estamos trabalhando com uma espécie arbórea nativa, carente de informações técnicas nesse assunto e acreditamos que esses dados servirão de base para novos estudos com intuito de refinar a metodologia de enxertia para a espécie”, enfatiza o pesquisador Wanderlei Lima, coordenador do estudo.
Os resultados completos estão no artigo “Avaliação de métodos de enxertia em mudas de baruzeiro (Dipteryx alata Vogel, Fabaceae)”, publicado na revista Ciência Florestal, edição de abril/junho de 2023. Lima explica que o próximo passo é aprimorar o processo, utilizando a experiência adquirida no primeiro experimento para aumentar a porcentagem de pegamento das enxertias.
O resultado foi bastante positivo, na avaliação da equipe, composta também pela analista Fernanda Morais e o assistente Vicente Moreira. Algumas mudas enxertadas na Embrapa Cerrados já foram transplantadas em campo na bordadura do experimento de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, no qual está sendo avaliado o uso de espécies nativas do Cerrado nesse sistema. Um dos principais desafios para a domesticação do baruzeiro é justamente a produção de mudas. Atualmente, não há metodologia validada de reprodução assexuada para essa espécie.
Os poucos pomares de baruzeiro existentes são formados por mudas feitas a partir de sementes. “A reprodução sexuada [com uso de sementes] envolve uma grande variabilidade genética e por isso não garante que os filhos tenham as mesmas características da mãe. Já a reprodução assexuada [propagação vegetativa], com produção de clones, garante que essas características serão mantidas. Essa é uma ferramenta importante para multiplicação de materiais de interesse diversos”, explica Lima.
Trabalhos anteriores, realizados em 2002 e 2003 na Embrapa Cerrados, avaliaram outros métodos de reprodução vegetativa para o baruzeiro. A estaquia, apesar de ser uma técnica bastante utilizada para espécies florestais, não apresentou bons resultados, já que a árvore apresenta difícil enraizamento. Houve a brotação das gemas, mas sem emissão de raízes. Paralelamente ao experimento atual de enxertia, foi realizada a estimulação de brotações epicórnicas, por meio de poda drástica em plantas adultas, para que surgissem novos brotos. Segundo avaliação do pesquisador, a espécie rebrota com facilidade e o uso dessas brotações representa uma fonte potencial para reprodução assexuada ainda não explorada.
A enxertia atende duas funções: auxilia o melhoramento genético da espécie e possibilita a multiplicação de plantas superiores. “A enxertia pode ser o primeiro passo para a domesticação das espécies nativas do bioma, principalmente para aquelas difíceis de serem reproduzidas por estaquia. Assim será possível selecionar materiais elite com características desejáveis, como menor porte da planta para facilitar o manejo, por exemplo, para garantir a formação de pomares mais homogêneos e com maior potencial de produção”, informa o pesquisador. Outra vantagem do uso da técnica é o menor prazo para início da produção.
O cientista informa que, nas últimas décadas, a demanda por produtos obtidos de espécies nativas do Cerrado tem aumentado consistentemente. Apesar desse cenário, boa parte da produção ainda é obtida pelo extrativismo. O baru se destaca entre as fruteiras nativas com maior potencial econômico, com demanda para recuperação de áreas degradadas, recomposição de reserva legal e formação de pomares comerciais. “Sua domesticação pode abrir um mercado bastante rentável para os produtores da região”, conclui.
Fonte: EMBRAPA – Juliana Miura (MTb 4563/DF) – Embrapa Cerrados