Como funciona o Sistema de Alerta?
O Sistema de Alerta surgiu na safra 2010/2011 na cultura do pessegueiro na região de Pelotas. O monitoramento do inseto é realizado o ano inteiro em pomares de produtores parceiros. Um técnico percorre, no início de cada semana, as unidades de observação na região definidas no programa. Nelas foram instaladas armadilhas McPhail (do tipo bola), iscadas com proteína hidrolisada, um atrativo que captura com maior eficiência as moscas. O programa preconiza a instalação de uma armadilha por hectare, que são vistoriadas para contagem da mosca-das-frutas. Esse material é conduzido ao Laboratório de Entomologia, no qual é feita sua análise. Os dados apurados compõem o conteúdo dos boletins informativos.
O monitoramento feito com as armadilhas do tipo bola é importante para indicar ao produtor se a população da mosca está alta ou baixa. Sabendo o tamanho do problema, ele pode tomar a melhor decisão.
Se a população estiver baixa — detecção de até três moscas por armadilha a cada semana — deve ser feita pulverização por isca tóxica nas bordas do pomar. Se forem capturadas mais de três moscas por armadilha a cada semana, a população do inseto é considerada alta e a recomendação é a pulverização por cobertura sobre todo o pomar.
Em cada uma das unidades de observação, ou próximo a elas, há estações meteorológicas para acompanhamento de dados climáticos, uma vez que a incidência das moscas tem relação com as variações do clima. Os dados colhidos pelas estações, como temperatura e umidade do ar, chuva, umidade do solo e temperatura do solo alimentam o Laboratório de Agroclimatologia. Essas variáveis servem para estudos comparativos feitos pelo Laboratório, mas também ajudam a indicar as estratégias de manejo que devem ser tomadas pelo produtor.
A decisão de criar o Sistema de Alerta surgiu depois da safra 2008/2009, na qual caminhões lotados de produção de pêssego foram perdidos na metade sul do estado em função do ataque da mosca-das-frutas. Muito dessa perda estava relacionada à retirada dos inseticidas com ação de profundidade da lista de agrotóxicos autorizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para controle da mosca-das-frutas. Anteriormente, os produtores faziam aplicação por calendário e buscavam controlar os ovos e as larvas do inseto com produtos químicos de ação de profundidade. Porém, desde a nova legislação, o controle da praga passou a estar focado na fase adulta do inseto, sendo o produto aplicado principalmente quando o monitoramento indica maior incidência dessas moscas nos pomares. “Se há uma mosca no pomar, a recomendação é: use isca tóxica!”, observa o pesquisador responsável pelo Programa, Dori Edson Nava, da Embrapa Clima Temperado, que criou o programa.
Na região de Pelotas, a importância do Sistema de Alerta é grande, pois a cultura do pessegueiro é uma das mais expressivas cadeias produtivas, envolvendo também os municípios de Arroio do Padre, Canguçu, Cerrito, Piratini, Morro Redondo e São Lourenço do Sul. Atualmente, a cultura é conduzida em cerca de duas mil propriedades, de até dez hectares, envolvendo cerca de seis mil pessoas. O pêssego é processado em 13 indústrias que, juntas, produzem 95% do pêssego em calda do Brasil – uma média anual de cerca de 50 milhões de latas. Ao todo, as indústrias chegam a gerar cerca de sete mil empregos diretos e três mil indiretos.
Um dos grandes resultados do programa apontados por Nava foi promover a compreensão do produtor sobre o porquê da não possibilidade de registro dos produtos químicos para controlar pragas especificamente para o pessegueiro. Além disso, o cientista frisa a importância do grupo de discussão gerado a partir do programa, por meio do qual é possível conhecer os problemas da cultura e observar reivindicações do setor. “É a pesquisa, que conversa com o produtor, que conversa com a extensão; é a extensão, que conversa com a indústria; e é a indústria, que conversa com o produtor e a pesquisa. Atingimos um grau de maturidade entre as instituições”, elogia.
Fonte: https://www.embrapa.br