(Fonte: Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo)
Março, 2020 – As mulheres vêm conquistando cada vez mais espaço em todas as etapas do agro paulista, tanto no processo produtivo como na administração dos negócios. (…), a presença feminina garante novas ideias e maior projeção do setor, inclusive internacionalmente.
Em Jundiaí, a enóloga Ariana Sgarioni, responsável técnica da Adega Beraldo Di Cale, segue os passos do bisavô, que chegou da Itália em 1905. Após trabalhar com outras culturas, ele adquiriu uma propriedade e passou a cultivar uva de mesa, em especial a Niágara rosada e branca. Com a fruta que não tinha padrão para ser comercializada, seu avô produzia vinho para consumo próprio. “Isso sempre foi muito presente na minha história: sempre vi meu avô produzindo e consumindo o vinho nas reuniões de família. Meu maior estímulo foi minha mãe sair da profissão de bancária para embarcar nessa aventura, que foi o vinho. Juntos, meu avô e minha mãe constituíram uma adega e passaram a fazer a bebida com uvas da propriedade e de outros locais”, conta Ariana.
Ariana Sgarioni, enóloga e presidente da Câmara Setorial de Uva e Vinho da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
Apesar de todo o esforço de sua mãe e do avô, que administraram o negócio com conhecimento majoritariamente empírico, passados de pai para filho, Ariana foi a primeira na família a buscar uma formação técnica. Primeiro, graduou-se em Nutrição pela Universidade de São Paulo, sempre buscando fazer uma conexão com o vinho em seus trabalhos de iniciação científica. Só então especializou-se em Tecnologia em Viticultura e Enologia, curso à época oferecido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul.
Ao retornar, teve um grande desafio pela frente: “Em geral, quando se entra no mercado de trabalho, você começa a trabalhar e tem uma chefia. No meu caso, tive que aplicar toda a parte técnica sem nenhuma supervisão, o que no primeiro momento me deixou um pouco insegura, pois o negócio representava a renda da minha família”, disse a enóloga, destacando ainda as diferenças no ponto de vista entre as gerações. “Foi uma questão enfrentada tanto por minha mãe, ao apresentar novas ideias ao meu avô, como por mim, quando sugeri mudanças a ela”. Hoje, Ariana coordena todo o processo de produção de vinho na propriedade, que conta ainda com uma loja para venda dos rótulos e um restaurante, que integram a Rota Turística da Uva, em Jundiaí.
Ariana confessa que, por ser muito nova ao assumir os negócios, precisou conquistar credibilidade junto ao setor, mas hoje transita de forma muito tranquila entre seus pares. Atualmente, é presidente da Câmara Setorial de Uva e Vinho da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, fórum permanente de interlocução entre o setor privado e público, que congrega todos os agentes da cadeia produtiva.
“Meu objetivo na Câmara Setorial é unir e organizar o setor, que é forte e tem grande potencial para ser explorado. Meu trabalho gira em torno de agregar, convidar e explicar às pessoas a importância da Câmara e que junto somos representativos”, explica, dizendo que sempre foi tratada com carinho e atenção por todos os membros.
Para Ariana, a mulher está cada vez mais presente no setor, gerenciando vinícolas tanto na parte enológica como na agrícola, administração, gestão e pesquisa. “Acredito que hoje a mulher tem grande importância na sociedade, já mostramos que somos capazes e não há nenhum empecilho em desempenharmos qualquer cargo, mas nosso principal papel é estimular outras mulheres. Todas elas têm força e potencial, mas nem todas sabem disso”.
Mesmo sendo criada em uma família patriarcal, Ariana afirma que as mulheres a sua volta sempre foram ouvidas e tiveram seu lugar. “Minha família é formada por mulheres muito fortes, que serviram de exemplo e me ajudaram a ter forças para enfrentar desafios e conseguir conquistar o meu lugar”, disse.