O cinturão citrícola brasileiro de produção de laranja responsável pela maior exportação de suco mundial, com cerca de 80% plantado somente no Estado de São Paulo, já é acometido de muitas pragas de importância econômica de difícil controle. Essas são lideradas pelo psilídeo dos citros Diaphorina citri, transmissor da devastadora bactéria do xilema HLB, Candidatus Liberibacter
asiaticus. Na tentativa de mitigar os danos da bactéria, os produtores têm que arcar com elevados gastos com inseticidas aplicados sistematicamente na forma de calendários, visando a tolerância zero ao vetor, o que acarreta irreversíveis danos ambientais (muitos efeitos colaterais indesejáveis) e econômicos (pulverizações semanais).
A Mosca da Carambola não é mais praga quarentenária-1, pois já foi constatada no Amapá, Roraima e Pará. Portanto,
é uma grande preocupação de todos da cadeia citrícola se essa praga venha a ser mais uma no rol das pragas dos citros no cinturão citrícola, pelo que se ouve da gravidade que ela representa pelos danos diretos e indiretos, como restrições fitossanitárias de exportação.
Mosca da Carambola
A Mosca da Carambola, Bactrocera carambolae (Diptera: Tephritidae), é uma das espécies de Moscas das Frutas de
maior importância mundial do ponto de vista econômico. A lista de frutas hospedeiras é longa, 107 em todo o mundo e
21 no Brasil (segundo relato da Embrapa na internet): acerola, caju, carambola, goiabeira, jambo-vermelho, laranja, manga, tangerina, manga, taperebá, biribá, ajuru, licania, muruci, araçá-boi, pitanga, goiaba-araçá, ameixa-roxa, sapoti, abiu, cutiti, laranja-da-terra e pimenta-de-cheiro.
Essa mosca tem origem na Indonésia, Malásia e Tailândia, portanto vinda do Sudeste Asiático, sendo considerada espécie exótica invasora no Brasil, Suriname, República da Guiana e Guiana Francesa. Foi encontrada pela primeira vez na América do Sul em 1975, em Paramaribo, Suriname. Em 1989, foi detectada na Guiana Francesa, e em março de 1996, foi detectada oficialmente no Brasil, no município de Oiapoque, no Amapá. É considerada praga quarentenária A2, ou seja, já está no Brasil, mas ainda é considerada em
potencial para o Brasil. Os pesquisadores da Embrapa descrevem como danos que causam perda direta na produção, pois os frutos infestados têm seu desenvolvimento afetado e caem precocemente, aumento nos custos da produção e a depreciação do fruto infestado, implicando em menor valor comercial.
Descrição e biologia
As espécies de Moscas das Frutas da família Tephritidae têm metamorfose difícil de identificá-las por ovos e fases imaturas, excetuando-se os adultos que diferem um pouco entre as espécies.
Os adultos Adultos de B. carambolae têm de 7 a 8 mm de comprimento, sendo que a parte superior do tórax é de cor negra, o abdome é amarelado e marcado por listras negras que se encontram formando um T. A asa não tem faixa transversal, o mesonoto tem duas faixas longitudinais amarelas e o escutelo é amarelo. O abdome apresenta uma mancha negra em forma de um T (de fácil identificação). Apresentam grande capacidade de voar, e o vento é o seu maior meio de se transferir para regiões distantes. Portanto, podem se mover por longas distâncias em caso de falta de hospedeiros para reprodução ou alimento para sobrevivência.
Os ovos O período embrionário varia de 1 a 2 dias. Os ovos têm tamanho de 0,8 mm de comprimento, 0,2 mm de largura, com
a micrópila ligeiramente saliente na extremidade anterior. O córion é de cor branca a amarelo-esbranquiçada.
As larvas
A larva de terceiro ínstar tem comprimento de 7,5 a 9,5 mm e largura de 1,5 a 2 mm. As larvas apresentam coloração branca a amarelada e podem atingir 9,5 mm de comprimento, com período larval variando entre 12 e 14 dias. Ao abandonar o fruto, a larva em vira pré-pupa, saltam ao solo, penetram 5 cm e se transformam em pupa, cujo período varia entre 9 e 11 dias, após o qual emergem fêmeas e machos.
Do ovo a adulto
O período de ovo a adulto varia entre 24 e 26 dias. Aproximadamente, de 8 a 10 dias após a emergência, as fêmeas
iniciam a postura (até 1.000 ovos), podendo atacar frutos ainda verdes, depositando de três a cinco ovos por postura. Os adultos têm longevidade de até 100 dias.
Barreiras fitossanitárias
O maior risco para a Região Sudeste é o recebimento de frutas infestadas pelas Moscas da Carambola oriundas das unidades da federação de ocorrência da praga, especialmente carambolas produzidas no Pará. As centrais de abastecimento são os locais considerados de alto risco de introdução e disseminação da praga a outras regiões de importância na fruticultura. Uma medida urgente é a realização de monitoramento para detecção da Mosca da Carambola nas diversas regiões citrícolas. Caso seja introduzida em nossas condições, a exportação de frutas frescas, inclusive espécies cítricas, poderá sofrer restrições por países compradores livres da praga, destacando-se Estados Unidos, União Europeia e Japão.
Inimigos naturais
Como espécie invasiva, é pouco conhecida a incidência de parasitoides nativos em fases imaturas de B. carambolae. Já
foi observada a emergência do parasitoide exótico Diachasmimorpha longicaudata (Hymenoptera: Braconidae) em pupas da Mosca da Carambola. Outra espécie exótica de Braconidae, Fopius arisanus, foi introduzida no Brasil em 2012 visando o controle de B. carambolae e que mostrou excelente potencial de parasitismo em condições de laboratório.
Vários estudos realizados em áreas ainda não infestadas pela B. carambolae mostram que o parasitoide braconídeo
Doryctobracon areolatus (Szépligeti) foi a mais frequente, representando altas porcentagens dos parasitoides coletados.
Possível manejo
As ações de manejo da Mosca da Carambola são baseadas em táticas de detecção, contenção e erradicação. Como
praga quarentenária presente, as ações de controle são coordenadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. O monitoramento pode ser feito com a utilização de armadilhas contendo metil eugenol ou por atrativos alimentares. Os atrativos alimentares atraem fêmeas e machos, enquanto metil eugenol atrai machos. Devido a essa característica de metil eugenol, o produto é também utilizado em mistura com inseticidas visando matar machos, sendo essa estratégia denominada de técnica de aniquilamento de machos. No caso da citricultura, caso haja o registro de B. carambolae, deverá ser intensificado o uso de iscas tóxicas.
Sugere-se também testes com Ceratrap com o objetivo de controle pelo princípio de atrai-mata, que já funciona para
as Moscas das Frutas tradicionais. Para esse fim, é feita uma distribuição de armadilhas em alta densidade, como de 80
a 120 por hectare, com 300 mL/armadilha, e reposição de 150 mL mensalmente, sem trocar por um ano, com troca
anual de material atrativo. A experiência em pomar de tangerina a eficácia foi excelente para Ceratitis capitata.
Fonte: Coluna Gravena – GCONCI – 19/02/2024.