<p><strong>Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP</strong> –
Geralmente descartada por seu sabor adstringente, de “amarrar a boca”, a casca da jabuticaba pode ser uma excelente aliada no tratamento da obesidade e da síndrome metabólica, sugere estudo <strong><a href=”https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0271531724000277″ target=”_blank”>publicado</a></strong> na revista <em>Nutrition Research</em>.</p>
<p>Conduzida por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pesquisa mostrou que o consumo diário de pelo menos 15 gramas da casca da fruta melhorou, ao longo de cinco semanas, os níveis de inflamação e de glicose no sangue de indivíduos com síndrome metabólica e obesidade.</p>
<p>“Os compostos fenólicos e as fibras presentes na casca da jabuticaba têm o poder de modular o metabolismo da glicose. Já tínhamos observado esse efeito em estudos anteriores. Neste trabalho, no entanto, avaliamos o consumo prolongado e descobrimos que esse efeito na glicose se dá inclusive no período posterior à refeição, ou seja, na glicemia pós-prandial”, afirma <a href=”http://bv.fapesp.br/pt/pesquisador/33814/mario-roberto-marostica-junior” target=”_blank”><strong>Mário</strong> <strong>Roberto Maróstica Junior</strong></a>, professor da Unicamp e coordenador da investigação.</p>
<p>Segundo o pesquisador, mesmo em indivíduos saudáveis a glicemia costuma aumentar após as refeições, voltando depois aos níveis normais. “Portanto, algo que possa baixar a glicemia após uma refeição é interessante, pois faz com que o sujeito tenha níveis controlados de açúcar no sangue ao longo do tempo, o que resulta em uma vida mais saudável e parâmetros mais controlados”, explica.</p>
<p>O trabalho, apoiado pela FAPESP por meio de três projetos (<strong><a href=”https://bv.fapesp.br/pt/auxilios/111724/estudos-in-vitro-do-metaboloma-de-antocianinas-de-frutas-visando-entender-seus-mecanismos-de-acao-co/?q=22/09493-9″ target=”_blank”>22/09493-9</a></strong>, <strong><a href=”https://bv.fapesp.br/pt/bolsas/189549/efeito-da-suplementacao-de-casca-de-jabuticaba-plinia-jaboticaba-no-perfil-metabolico-de-individuo/?q=19/12244-8″ target=”_blank”>19/12244-8</a></strong> e <strong><a href=”https://bv.fapesp.br/pt/bolsas/198515/purpletrack-comportamento-de-antocianinas-de-frutas-nativas-brasileiras-em-modelos-de-simulacao-do-t/?q=21/02271-8″ target=”_blank”>21/02271-8</a></strong>), envolveu 49 participantes com síndrome metabólica e obesidade. Parte recebeu um suplemento diário com 15 gramas de casca de jabuticaba por cinco semanas, e os demais, apenas placebo. Todos foram submetidos a exames de sangue para monitoramento da glicemia. Também foram avaliadas as medidas antropométricas, como peso corporal e circunferência abdominal, além de pressão arterial e parâmetros inflamatórios, como a proteína interleucina-6, considerada um marcador de inflamação relacionada à obesidade.</p>
<p>“O estudo apontou resultados positivos em relação à diminuição da glicemia pós-prandial e níveis de inflamação no grupo que recebeu o suplemento. Mas vale ressaltar que a casca da jabuticaba não faz milagre, ela é apenas uma excelente maneira de auxiliar a modulação da glicemia. Isso quer dizer que a estratégia precisa vir acompanhada de outras medidas, como boa alimentação e exercício físico”, destaca o pesquisador à <strong>Agência FAPESP</strong>.</p>
<p><strong>Compostos bioativos</strong></p>
<p>Entre os compostos fenólicos presentes na casca da jabuticaba estão as antocianinas, que, além de conferirem a cor arroxeada à jabuticaba e a outras frutas, interferem no metabolismo da glicose, estimulando, sobretudo, as células L-intestinais. “Quando essas substâncias chegam ao intestino, entram em contato com as células L, responsáveis pela liberação de um composto chamado GLP-1 (glucagon-like peptide-1), que estimula a liberação de insulina na célula pancreática”, diz.</p>
<p>O pesquisador ressalta que é a insulina liberada no pâncreas que melhora a utilização da glicose. “Essa é uma das funções da insulina: chegando às células musculares – que são grandes captadoras de glicose – ela realiza uma cascata de sinalização que favorece o transporte da glicose para dentro da célula”, conta.</p>
<p>A síndrome metabólica é um conjunto de alterações metabólicas e hormonais que eleva o risco do indivíduo de desenvolver doenças cardiovasculares. Ela é caracterizada por pressão alta, obesidade abdominal, nível elevado de açúcar no sangue (hiperglicemia) e níveis anormais de triglicerídeos e HDL-colesterol. No estudo, os 49 participantes com síndrome metabólica apresentavam pelo menos três desses cinco fatores.</p>
<p>O pesquisador ressalta ainda que a obesidade em geral está associada com níveis mais elevados de moléculas pró-inflamatórias. “É como se a pessoa tivesse uma inflamação constante e isso prejudica toda a ação da insulina. Por isso que, em geral, pessoas com sobrepeso e obesidade têm também resistência à insulina. Nesses casos, geralmente, apesar de a insulina ser produzida, ela não atua”, diz.</p>
<p>Geralmente esse desbalanço nos níveis de glicose (que leva ao diabetes do tipo 2) pode ser corrigido com medicamentos ou a adoção de hábitos saudáveis e a perda de peso. “A casca da jabuticaba atua também reduzindo a interleucina -6, que tem papel-chave no desenvolvimento de resistência insulínica e contribui para a inflamação do tecido adiposo. Ela tem, portanto, um efeito positivo não só na glicose pré-prandial, mas também reduz os níveis de inflamação, o que a torna uma aliada para os casos de síndrome metabólica”, diz.</p>
<p>O problema, segundo o pesquisador, é que ninguém quer comer a casca da jabuticaba por ela ser muito adstringente. “Mas isso pode ser contornado com o consumo de extratos e suplementos com a casca da fruta já disponíveis no mercado”, completa.</p>
<p>O artigo <em>Jaboticaba peel improves postprandial glucose and inflammation: A randomized controlled trial in adults with metabolic syndrome</em> pode ser lido em: <strong><a href=”https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0271531724000277?via%3Dihub” target=”_blank”>www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0271531724000277?via%3Dihub</a></strong>.<br />
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