05/01/2011 – Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
Ana Lúcia Borges1 e Luciano da Silva Souza2
A bananeira (Musa spp.) é uma planta exigente em nutrientes e o suprimento deles é feito pelo solo sendo, muitas vezes, necessária a aplicação de calcário e fertilizantes. Assim, para uma recomendação correta de calagem e adubação, objetivando produtividade viável econômica e ambientalmente, é fundamental a análise química do solo em laboratório, a qual avalia a disponibilidade de nutrientes ou o excesso de elementos tóxicos no solo para a planta.
As amostras de solo devem ser coletadas nas profundidades de 0-20 cm e 20-40 cm em áreas cultivadas pela primeira vez com bananeira. Em alguns casos pode-se recomendar a amostragem na profundidade de 40-60 cm. O número de amostras simples não deve ser inferior a 20 pontos por gleba homogênea, sendo ideal em torno de 30 pontos, principalmente em solos argilosos e aluviais.
Nos bananais em produção, recomenda-se que a análise química do solo seja feita preferencialmente a cada seis ou 12 meses, na profundidade de 0 a 20 cm, a fim de permitir o acompanhamento e a manutenção dos níveis adequados de nutrientes durante o ciclo da planta. Nesse caso, a coleta das amostras deve ser feita na região de aplicação do fertilizante, onde as raízes da bananeira se desenvolvem, ou na faixa úmida da área, quando a adubação for via água de irrigação, sempre obedecendo ao prazo de, no mínimo, 20 a 30 dias após a última adubação.
A calagem, quando recomendada, deve ser a primeira prática a ser realizada, com antecedência mínima de 30 dias do plantio, preferencialmente.
O calcário deve ser aplicado a lanço em toda a área. Aplica-se primeiro a dose recomendada para a profundidade de 20 a 40 cm. Para incorporar o calcário deve-se realizar uma escarificação com hastes retas para atingir 30 cm de profundidade.
Embora o escarificador não revolva o solo, como o arado, a água das chuvas se encarregará de conduzir/transportar o calcário aplicado para a macroporosidade do solo ampliada pelo escarificador, atingindo assim maior profundidade. Aguardar 10 a 15 dias e aplicar a dose de calcário recomendada para 0 a 20 cm, seguida de nova escarificação. Aguardar mais 15 a 20 dias para realizar o plantio. C
aso não seja possível o uso do escarificador, tanto pela topografia superior a 8%, quanto pela indisponibilidade do implemento, a incorporação do calcário pode ser efetuada na época da ceifa ou capina da vegetação natural. Neste caso, aplica-se apenas a quantidade de 0 a 20 cm.
Recomenda-se o uso de calcário dolomítico (25% a 30% de Ca e > 12% de Mg), que contém cálcio (Ca) e magnésio (Mg), evitando assim o desequilíbrio entre potássio (K) e Mg e, consequentemente, o surgimento do distúrbio fisiológico denominado azul da bananeira (deficiência de Mg induzida pelo excesso de K).
A recomendação de calagem deve basear-se na elevação da saturação por bases (V) para 70% (Equação 1). Além disso, adicionar 300 g de calcário na cova de plantio, em solos com pH em água inferior a 6,0.
As quantidades de fertilizantes recomendadas nas fases de plantio, formação e produção da bananeira são baseadas na análise química do solo e na produtividade esperada.
Nitrogênio (N): o nitrogênio aplicado no plantio deve ser na forma orgânica (75 kg/ha, preferencialmente como esterco bovino curtido). A adubação orgânica é importante para manter o solo produtivo, pois exerce efeitos benéficos sobre seus atributos físicos, químicos e biológicos. As fontes orgânicas a serem aplicadas nas covas de plantio, principalmente em solos arenosos e de baixa fertilidade, dependem da sua disponibilidade e as quantidades variam de acordo com os teores em nutrientes dos diversos materiais. De maneira geral, recomenda-se de 15 a 20 litros de esterco de curral por cova.
Fósforo (P): o fósforo favorece o desenvolvimento vegetativo e o sistema radicular; é praticamente imóvel no solo e, por isso, deve ser aplicado na cova de plantio (0 a 120 kg/ha de P2O5). Solos com teores acima de 30 mg/dm3dispensam a adubação fosfatada. As fontes de fósforo recomendadas são o superfosfato simples (18% de P2O5, 20% de Ca e 11% de S), o superfosfato triplo (42% de P2O5 e 14% de Ca) ou o termofosfato magnesiano (17% de P2O5, 18% de Ca e 7% de Mg). Em solos com pH em água maior que 6,5 e plantios com mudas micropropagadas, o MAP (48% de P2O5 e 9% de N), que contém fósforo e nitrogênio, é uma fonte permitida.
Potássio (K): quando a análise química do solo julgar necessário, pode-se utilizar adubos químicos potássicos no plantio (20 kg/ha de K2O), levando em consideração também o balanço K:Ca:Mg. O potássio estimula o desenvolvimento do sistema radicular. A fonte mais utilizada é o cloreto de potássio (58% de K2O e 45% de Cl), podendo ser aplicado o sulfato de potássio (50% de K2O e 16% de S) e o sulfato duplo de potássio e magnésio (18% de K2O, 4,5% de Mg e 23% de S).
Micronutrientes: os micronutrientes boro (B) e zinco (Zn) são os que, normalmente, causam mais deficiências na bananeira. Se o solo apresentar teor de B (água quente) inferior a 0,21 mg/dm3, recomenda-se aplicar 2 kg/ha de B. O boro pode ser suprido pelo bórax (11% de B) ou ácido bórico (17% de B).
Para teores de Zn no solo (Mehlich-1) inferiores a 0,60 mg/dm3, recomenda-se 10 kg/ha de Zn. A fonte de zinco mais utilizada é o sulfato de zinco (20% de Zn e 17% de S).
Caso não se tenha análise química do solo para micronutrientes, recomenda-se aplicar 50 g de FTE BR12 na cova de plantio.
O nitrogênio (N) mineral, de maneira geral, deve ser suprido a partir dos 30 dias até 360 dias após o plantio, na dose de 150 kg/ha. A uréia (44% de N) e o sulfato de amônio (20% de N e 23% de S) são as fontes mais utilizadas.
A recomendação de potássio nessa fase de crescimento da planta é baseada na análise química do solo, cujas quantidades variam de 0 (teores no solo acima de 0,60 cmolc/dm3) a 430 kg/ha de K2O (teores abaixo de 0,15 cmolc/dm3).
As quantidades de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) recomendadas para a bananeira na fase de produção são baseadas na produtividade esperada, e, apenas para P (0 a 160 kg/ha de P2O5) e K (0 a 750 kg/ha de K2O), levam em consideração também os teores desses nutrientes no solo. Além disso, a cada seis meses sugere-se aplicar 20 litros de esterco de curral curtido por família em solos argilosos, e a cada quatro meses em solos de textura arenosa. A quantidade de N recomendada varia de 150 a 270 kg/ha, dependendo da produtividade esperada.
Vale lembrar que a adubação de manutenção do bananal deve basear-se nos resultados das análises químicas de solo e folhas, na idade e produtividade do bananal (exportação de nutrientes), na variedade plantada e na ocorrência de sintomas de deficiências nutricionais, sempre segundo as recomendações do técnico responsável.
O parcelamento da adubação vai depender da textura e da capacidade de troca catiônica (CTC) do solo, bem como do regime de chuvas e do manejo adotado. Em condições de sequeiro, o adubo deve ser aplicado durante o período de chuva, quando o solo estiver com umidade. Em solos arenosos e com baixa CTC, deve-se parcelar semanalmente ou quinzenalmente. Em solos mais argilosos, as adubações podem ser feitas mensalmente ou a cada dois meses, principalmente nas aplicações na forma sólida.
As adubações em cobertura devem ser feitas em círculo, numa faixa de 10 a 20 cm de largura e de 20 a 40 cm distantes da muda, aumentando-se essa distância com a idade da planta, podendo ser aplicado em cima da palhada. No bananal adulto, os adubos são distribuídos em meia-lua, em frente às plantas filha e neta. Em terrenos inclinados, a adubação deve ser feita em meia-lua, do lado de cima da cova e ligeiramente incorporada ao solo. Em casos de plantios muito adensados e em terrenos planos, a adubação pode ser feita a lanço, nas ruas.
BORGES, A.L; RAIJ, B. van; MAGALHÃES, A.F. de; BERNARDI, A.C. de. Nutrição e adubação da bananeira irrigada. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2002. 8p. (Embrapa-CNPMF. Circular Técnica, 48).
1Pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Caixa Postal 007, CEP 44380-000, Cruz das Almas. BA.
2Professor adjunto do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, CEP 44.380-000 Cruz das Almas, BA.