15° Encontro Brasileiro de Frutas Raras – 11 de Novembro de 2017, Araras, SP Grupo de Pesquisas em Plantas Hortícolas e Paisagismo (GPHP), Centro de Ciências Agrárias – UFSCar Associação Brasileira de Frutas Raras – Rio Claro, SP Organizadores: Jean Carlos Cardoso; Grupo de Pesquisas em Plantas Hortícolas e Paisagismo; Associação Brasileira de Frutas Raras
Palestra de Abertura: Dr. Sérgio Sartori, Presidente da Associação Brasileira de Frutas Raras, Rio Claro, SP A Associação Brasileira de Frutas Raras foi fundada 15° Encontro Brasileiro de Frutas Raraspelo Dr. Sergio Fernando Sartori (atual presidente), onde a paixão pelas plantas e a curiosidade em querer conhecer, trocar e divulgar novas espécies com outros apaixonados pelo ramo fez com que ele criasse essa organização, contando com a colaboração dos demais sócios e voluntários para conseguir esse objetivo. A cada ano é realizado um novo encontro, em um lugar diferente. Contamos com a presença de palestrantes, sendo abordado um novo tema a cada reunião, visita ao campo, troca de mudas e degustação de frutas, além de participantes de todo o Brasil, dentre eles grandes nomes da fruticultura brasileira. Sempre escolhemos assuntos relacionados à pesquisas recentes ou em andamento, tais como “Utilização de frutas nativas em cruzamentos visando a produção de variedades comerciais de frutas”, “Espécies cítricas com potencial de uso na fruticultura” e “Potencial de uso de espécies frutíferas nativas do Brasil”, que foram as que aconteceram este ano na UFSCar, em Araras/SP. Os resultados alcançados desses encontros são contatos com as pessoas que atuam com frutas raras, fazendo com que mais pessoas conheçam e tenham acesso a essas frutas raras, são trocas de conhecimento com inúmeros profissionais da área tais como professores universitários, doutores, acadêmicos, engenheiros agrônomos, pesquisadores, técnicos, fruticultores, viveiristas, estudantes, colecionadores e demais pessoas interessas em fruticultura.
E também divulgação das pesquisas em fruticultura com potencial para frutas de mesa, melhorando deste modo o sabor, a qualidade e o tempo de permanência em refrigeração. A Associação Brasileira de Frutas Raras não tem fins lucrativos e o seu principal objetivo é fazer com que as frutas raras sejam conhecidas e entrem no cardápio da população.
Palestra de abertura: O Grupo de Pesquisas em Plantas Hortícolas e Paisagismo Desde 2013, o Grupo de Pesquisas em Plantas Hortícolas e Paisagismo (GPHP) desenvolve atividades de pesquisas e extensão visando conciliar os problemas observados na Horticultura, incluindo frutas, hortaliças, flores e plantas medicinais, com a solução de problemas a partir de técnicas sustentáveis de produção. Na fruticultura, desde 2013, o GPHP, por meio da então estudante de Bacharelado em Agroecologia Yara Karolina Moura de Souza, e mais atualmente com a participação dos estudantes Danilo Henrique Dias Pereira, Douglas Henrique do Couto (ambos estudantes de Engenharia Agronômica), Tainá Martins Cardoso e Caroline Dorta (ambas estudantes de Bacharelado em Agroecologia) conta com uma área didática conduzida em sistema orgânico, no qual foram instaladas diferentes espécies frutíferas visando a seleção de plantas mais adaptadas as condições climáticas da região de Araras, SP. Acreditamos que a geração desse tipo de conhecimento é de utilidade imediata para aplicação no desenvolvimento regional, sendo a fruticultura um forte setor com poder de mudar o desenvolvimento econômico de uma região. A partir desses resultados e também da falta de mudas de alta qualidade de espécies frutíferas, outro projeto que está em desenvolvimento pela estudante Bárbara Samantha de Oliveira tem sido a propagação in vitro de mudas de frutíferas comerciais de alto valor comercial, como variedades de banana resistentes a doença sigatoka amarela e negra, como forma de difundir entre produtores regionais mudas de alta qualidade e mais resistentes as doenças atualmente importantes na cultura. Também, por meio do projeto de mestrado desenvolvido pelo estudante Willian Naves Duarte, estão sendo produzidas mudas in vitro de uma variedade de amora (Morus nigra) com alta capacidade produtiva para sistema orgânico. No mesmo projeto, testes com outros tipos de amoras nativas do gênero Rubus tem sido realizados para fins de conservação e potencial de seu uso na fruticultura. Em
resumo já foram treinados em diferentes projetos desenvolvidos no GPHP mais de 25 estudantes de graduação e atualmente o grupo conta com 10 estudantes de graduação e 3 de pós graduação, com atividades em diferentes áreas da Horticultura.
Palestra 1: Utilização de frutas nativas em cruzamentos visando a produção de variedades comerciais de frutas.
Prof. Jean Carlos Cardoso – Departamento de Biotecnologia, Produção Vegetal e Animal (DBPVA) – Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de São Carlos, Rodovia Anhanguera, km 174, Araras, SP. jeancardoso@ufscar.br
Embora seja encontrada uma grande diversidade de espécies frutíferas na natureza, por vezes é difícil consorciar todo o potencial dessas plantas dentro de uma única que contenha características comerciais de interesse. Consorciar numa única planta produtividade, qualidade, maior durabilidade de prateleira dos frutos com precocidade e resistência a pragas e doenças em espécies provenientes de áreas nativas é quase impossível, mas a ampliação de variabilidade genética por meio da realização de polinizações controladas pode ser uma alternativa viável e que pode ser realizada na propriedade rural sob condições mais controladas. Além disso, a própria curiosidade de saber os resultados possíveis do cruzamento de duas plantas de uma mesma espécie ou de espécies diferentes, pode ser uma porta aberta para a observação e geração de materiais com potencial de uso na fruticultura. Por exemplo, é comum termos na coleção uma planta com frutos amarelos e outra com frutos vermelhos, ou então, uma planta com casca dura e outra mais doce e saborosa (a exemplo da uvaia citada no evento) – Qual seria o resultado em relação à coloração de frutos das filhas de um cruzamento entre essas duas plantas? Como realizar esses cruzamentos? Nossa experiência com cruzamentos utilizando as espécies nativas vem de cruzamentos entre goiabeiras (Psidium guajava) comerciais e uma espécie de araçá proveniente da Mata Atlântica (Psidium cattleianum). O araçá é resistente a um nematóide de grande importância para a cultura da goiabeira. No entanto, não sabíamos a capacidade de cruzamento entre essas duas espécies. Os testes de campo mostraram grandes dificuldades para se obter frutos e sementes. Como resposta, levamos plantas de goiabeiras e araçás para casa de vegetação (estufa), no qual observamos que nessas condições o pegamento de frutos provenientes desse cruzamento foi possível. No
caso da goiabeira com o araçá, como o objetivo era ter plantas mais próximas morfologicamente de goiabeiras, porém com a resistência ao nematóide do araçá, utilizamos as goiabeiras como doadoras das sementes e o araçá como doador dos grãos de pólen. Verificamos que é possível a realização dos cruzamentos, quando utilizamos botões florais de goiabeiras previamente à abertura das flores (12-24 horas antes da abertura). Nesse momento, com auxilio de uma pinça e bisturi, retiramos todas as pétalas, sépalas e principalmente as anteras (parte masculina), um processo conhecido como emasculação das flores, deixando somente o ovário e o estigma na flor de goiabeira, parte verde de formato cilíndrico, em geral localizado no centro da flor. Posteriormente, os grãos de pólen de flores de araçá em inicio de abertura eram levados até as flores de goiabeiras para realização da polinização, no qual esfregamos as flores de araçá contendo os grãos de pólen nos estigmas das flores de goiabeiras previamente emasculadas. Conseguimos frutos e sementes que depois foram germinadas em condições de bandeja com substrato ou laboratório. Atualmente, com as plantas híbridas de goiabeiras com araçás, estamos em fase de testes dessas plantas para a resistência ao nematóide. Como conclusão, há um grande potencial de uso de espécies nativas como o araçá, no melhoramento de frutas comerciais, a exemplo da goiabeira. Isso é um exemplo de aplicação do melhoramento genético utilizando frutas nativas, porém esse exemplo poderia ser replicado para muitas outras espécies nativas e exóticas consideradas raras. O simples fato de iniciar a ‘brincadeira’ de polinizar uma planta com a outra, pode gerar uma grande quantidade de variabilidade genética que pode refletir em novas cores de frutos, resistência a pragas e doenças, maior durabilidade de frutos, etc. Para tanto, é necessário polinizar e plantar as sementes provenientes dos cruzamentos. Posteriormente, a escolha daquelas plantas de maior interesse vem como resultado da observação do desenvolvimento das plantas, bem como da sua floração e frutificação. Essa pode ser uma fonte valiosa de informação e novos materiais a serem lançados no mercado de frutas, em especial utilizando espécies nativas de nossos biomas tão valiosos.
Palestra 2: Espécies cítricas com potencial de uso na fruticultura. Prof. Dr. Evandro Henrique Schinor – DBPVA/CCA/UFSCar
O centro de origem da maioria das plantas cítricas é o sudeste da Ásia, sendo o pomelo (Citrus paradise) a única espécie do gênero com origem no continente americano, sendo
constatada pela primeira vez no Caribe (Ilha de Barbados). No Brasil, os citros foram introduzidos pelas primeiras expedições colonizadoras, provavelmente na Bahia. O gênero Citrus pertence à família Rutaceae, que reúne mais dois gêneros com importância econômica, o Fortunella e o Poncirus. O gênero é representado pelas laranjas (C. sinensis), tangerinas (C. reticulata e C. deliciosa), limões (C. limon), limas ácidas como o Tahiti (C. latifolia) e o Galego (C. aurantiifolia), e doces como a lima da Pérsia (C. limettioides), pomelo (C. paradisi), cidra (C. medica), laranja azeda (C. aurantium) e toranjas (C. grandis). A produção mundial de citros foi, em 2015, de aproximadamente 138 milhões de toneladas, oriunda de extensa área cultivada, com 7,5 milhões de hectares cultivados, sendo China, Brasil, Índia e EUA os principais países produtores. O Brasil se destaca como maior produtor mundial de laranjas, com cerca de 16,8 milhões de toneladas produzidas em uma área cultivada de aproximadamente 665 mil hectares. O objetivo da palestra foi o de apresentar algumas espécies, variedades e híbridos de citros com potencial de uso na fruticultura. As espécies de citros mencionadas foram a cidra Mão-de-buda, toranjas, limões, limas doces e também, uma variedade do gênero Fortunella, o Kinkan ou Kunquat. Também foram apresentadas algumas tangerinas e novos híbridos de tangerina com laranja, diferentes variedades de mexericas, com diferenciações na época de maturação de frutos, variedades de laranjas pigmentadas, tanto as de polpa vermelha que apresentam maior concentração de carotenóides no suco, como as sanguíneas que possuem o pigmento antocianina na polpa, na casca e também no suco, que é vermelho, e por fim, foram mencionados os pomelos com polpa amerela e rosa-avermelhada.
Palestra 3: Potencial de uso de espécies frutíferas nativas do Brasil.
Dra. Poliana Cristina Spricigo; Aline Priscilla Gomes da Silva; Thaís Pádua de Freitas; Fernanda Ferreira Pazin; Prof. Dr. Ângelo Jacomino – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo.
O Laboratório de Pós-Colheita de Produtos Hortícolas tem um histórico de trabalhos com a conservação de frutas nativas do Brasil. Nos últimos anos, frutos de cambuci, uvaia, grumixama e cereja do rio-grande tem sido a linha principal de pesquisa do Dr. Angelo Pedro Jacomino, que integram o projeto temático “Frutas da Mata Atlântica potencialmente funcionais: caracterização, multiplicação de plantas e conservação pós-colheita – Processo: 14/12606-3”. Limitadas anteriormente a produção em fundo de quintal, hoje, estas frutíferas começam a alcançar maior notoriedade. O desafio é grande. O ponto de partida é a identificação das características de cada fruta. A elevada variabilidade quanto ao aroma, sabor, coloração, textura e conteúdo de compostos bioativos exige uma amostragem extensa de plantas. Centenas de plantas no estado de São Paulo, de diferentes regiões, estão sendo catalogadas e georreferenciadas como matrizes do projeto. Neste ponto, a colaboração de instituições parceiras, privadas ou públicas, tem sido essencial. A colaboração entre instituições tem permitido a identificação de demandas reais existentes, do produtor ao consumidor final.Nesta linha, o intuito é poder orientar quanto a potenciais distintos: àquelas que serão selecionadas para produção de frutos direcionados ao mercado in natura e às que possuem mais aptidão para o processamento. Além de focar na qualidade dos frutos, a ideia é que sejam desenvolvidas também práticas culturais. Pouco, ou nada, se sabe sobre as recomendações para produção de mudas de frutas nativas sob multiplicação vegetativa,uma situação contrastante àquelas que são convencionalmente comercializadas, como a maçã. Para as quatro fruteiras selecionadas, testes examinando a multiplicação por enxertia, estaquia e alporquia serão realizados. A produção tecnificada de mudas busca atender a demanda de produtores e ajudará a difundir os cultivos das plantas nativas, facilitando a implantação de pomares destas espécies. Os estudos em tratos culturais também estão sendo estendidos ao manejo de adubação, podas e irrigação. O manejo cultural dessas espécies irá auxiliar também em uma questão de suma importância atualmente, o reflorestamento e a recomposição de áreas degradadas. Outra vertente do projeto é a preservação da qualidade das frutas. As frutas em questão possuem características em comum: todas pertencem a família mirtácea, possuem sabor agradável e vida útil após a colheita extremamente curta. O tempo reduzido para o armazenamento e comercialização cria uma barreira à ampliação de seu consumo, uma vez que a chegada da produção a mercados mais distantes é praticamente impossível. Algumas estratégias serão adotadas na expectativa de estender a conservação pós-colheita:
armazenamento refrigerado, armazenamento sob atmosfera controlada e sob atmosfera modificada. Todos os armazenamentos objetivam reduzir o metabolismo dos frutos, resguardando-os de deterioração. Como o cultivo do cambuci, uvaia, grumixama e cereja do Rio-Grande está fundamentado em pequenas propriedades e pequenos produtores, estudar formas de melhorar as condições de produção e comercialização destes frutos possui também um forte viés social. Muitas propriedades hoje produtoras são localizadas no Vale do Ribeira uma região com remanescentes da Mata Atlântica, mas que apresenta baixo desenvolvimento econômico e social.
AGRADECIMENTOS O GPHP agradece ao Comitê de Eventos do CCA/UFSCar pelo apoio financeiro concedido e a Associação Brasileira de Frutas Raras, em especial ao Dr. Sérgio Sartori pelo auxílio na promoção do evento. JCC agradece a Fapesp pelo Processo 2013/07094-0 ‘Utilização de Ferramentas Biotecnológicas na goiabeira visando a resistência aMeloidogyne enterolobii’ e a Proex/UFSCar pelos projetos ‘Mudas de alta qualidade a partir do cultivo in vitro como forma de desenvolvimento regional da fruticultura’ (Processo 23112001119/2017-94) e ‘Seleção de espécies frutíferas para manejo sustentável e propagação’ (processo 23112001112/2017-72)