O mamão é cultivado em quase todo o Brasil, com destaque para os estados da Bahia, do Espírito Santo e do Ceará. O extremo sul baiano é a maior região produtora da fruta no País: Itabela é o município que mais produz (144.361 toneladas em 1.700 hectares de área colhida), seguido por Prado e Belmonte, de acordo com os dados de 2016 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O controle das duas pragas mais comuns da cultura do mamoeiro — a varíola ou pinta-preta, causada por Asperisporium caricae, e o ácaro-rajado (Tetranychus urticae) — vai ganhar um aliado tecnológico que cabe na palma da mão: o Sistema Integrado de Monitoramento de Pragas do Mamão (SimpMamão), solução da Embrapa na área conhecida como agricultura digital, digital farming ou agricultura 4.0.
Em um dispositivo móvel, como celular ou tablet, o produtor preenche planilhas digitais com várias informações sobre a lavoura, como número de insetos encontrados e quantidade de frutos, entre outras. Após a sincronização desses dados com o sistema na internet, o SimpMamão analisa e apresenta recomendações de pulverização ou não da plantação. A tecnologia permite uma resposta rápida e específica restringindo, por exemplo, as aplicações de defensivos somente à área atingida, se for o caso. Além disso, o sistema registra um histórico de observações em tempo real, permitindo o acompanhamento da disseminação das pragas.
“A ideia é reduzir o número de aplicações em pré-colheita e, consequentemente, diminuir os resíduos de agrotóxicos nos frutos. Quanto menos se aplicar esses produtos químicos, melhor para o meio ambiente e para quem está aplicando. E há também a questão do custo, uma vez que, segundo os estudos, o monitoramento, agora disponível em software, chegou a reduzir até 50% das aplicações. Isso significa 50% de economia para o produtor”, explica a pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) Fabiana Sasaki.
Lançado no VII Simpósio do Papaya Brasileiro, realizado de 22 a 25 de agosto de 2018 em Vitória (ES), o software é um dos resultados do projeto “Desenvolvimento de tecnologias pré e pós-colheita para redução de resíduos de agrotóxicos em mamão”, apelidado de SaúdeMamão, liderado por Sasaki.
O analista de transferência de tecnologia (TT) Cicero Lucena, que atua hoje na Embrapa Caprinos e Ovinos (CE), recorda que a proposta inicial era intensificar as ações de TT do monitoramento integrado de pragas utilizando instrumentos de validação de tecnologia, visando a aumentar as chances de adoção pelos produtores. “No início dos trabalhos de campo nas Unidades de Demonstração, observamos que poderíamos inovar também na forma de coleta e registros dos dados do monitoramento, dar mais agilidade e otimizar a mão de obra. A partir de uma discussão com membros da equipe do projeto, decidiu-se desenvolver um aplicativo ou sistema web em substituição às fichas de papel tradicionais até então utilizadas pelos pragueiros [operários rurais responsáveis pela identificação das pragas nas plantas] e pelos técnicos de escritório para digitação das informações contidas na ficha de campo”, conta.
Daí em diante, começou o trabalho dos analistas do Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI) da Embrapa Mandioca e Fruticultura Murilo Crespo e Luciano Pontes, e do estudante de Engenharia da Computação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) Andersoney Rodrigues. O desafio era simplificar o monitoramento das pragas. “As operações se tornam menos suscetíveis a erros de digitação e de cálculo, e os resultados são apresentados em painéis gráficos visualmente muito intuitivos”, explica Crespo, supervisor do NTI.
O software substitui o uso das planilhas em papel e exclui as etapas de tabulação dos dados e de cálculo dos índices do monitoramento. Além disso, a linguagem apropriada aos gestores e funcionários das fazendas amplia a possibilidade de adoção entre os produtores.
A informação é ratificada por Gabriel Borlini, gerente da Fazenda Santa Fé, em Itabela (BA), que possui 25 mil plantas de mamão em 16 hectares, e foi o parceiro escolhido pela Embrapa para validar o software. “Ele é bem visual. Os níveis, os gráficos que ele mostra são bastante dinâmicos. A vantagem é essa. Ele é um aplicativo completo e bem didático. É uma ferramenta muito boa, que até mantém o histórico de áreas”, opina.
Para enfrentar um problema comum às regiões rurais, que geralmente têm deficiência de cobertura de sinal de telecomunicações, o SimpMamão consegue registrar e armazenar os dados ainda no campo e sincronizá-los quando o acesso à internet for possível (via rádio, dados móveis ou wi-fi).
O software permite o cadastro de dois perfis de usuário – administrador da propriedade e pragueiro – que devem ser cadastrados com endereços de e-mail e senhas diferentes. No perfil de administrador, o usuário poderá cadastrar e gerir o monitoramento e o controle de pragas da propriedade e dos talhões, e também relacionar seus pragueiros.
No perfil de pragueiro, é possível acessar as planilhas digitais para preenchê-las com as informações sobre infestação de pinta-preta, número total de frutos, número total de ácaros-rajados e observações gerais por planta. Após a sincronização dos dados, o sistema mostra, para o gestor, o resultado referente à necessidade ou não da pulverização e leva à página do Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit), que é um banco de dados sobre agrotóxicos e afins registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Outra vantagem é que, por ser um sistema web projetado para mostrar as páginas de forma responsiva, a exibição é ajustada automaticamente para o dispositivo que o usuário esteja utilizando, seja tablet, celular ou computador.
Até a década passada, o controle químico tradicional, com aplicação de agrotóxicos de acordo com o calendário de incidência das pragas, era a única opção para combater a pinta-preta e o ácaro-rajado. Mas, a partir de 2009, a Embrapa Mandioca e Fruticultura desenvolveu, em parceria com a Agência de Defesa Agropecuária do Estado da Bahia (Adab), a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), a Fazenda Palmares (Itabela, BA) e a extinta Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), a metodologia do monitoramento de pragas do mamoeiro, que se tornou uma das principais práticas recomendadas para a Produção Integrada de Mamão, que utiliza técnicas e tecnologias que minimizam ou racionalizam o uso de agroquímicos e permite a obtenção de produtos com níveis de resíduos químicos bem abaixo dos permitidos por lei.
A aplicação racional de produtos registrados para a cultura somente quando houver risco econômico e exclusivamente na área atingida com níveis críticos de infestação é uma das características do monitoramento de pragas preconizado pela Embrapa e disponível agora no SimpMamão.
“O software agiliza a resposta sobre a necessidade ou não do controle das pragas monitoradas e permite o registro eletrônico da incidência de pragas nas diferentes épocas do ano e em vários anos”, destaca o fitopatologista da Embrapa Hermes Peixoto, responsável pelo desenvolvimento da técnica do monitoramento com o entomologista Nilton F. Sanches. “O SimpMamão foi testado na Fazenda Santa Fé com boa aceitação por parte do produtor e do responsável técnico. Depois, em maio, foi apresentado em um dia de campo na fazenda com boa receptividade por parte dos produtores e técnicos presentes”, salienta Peixoto.
Fonte: Embrapa Mandioca e Fruticultura. 21/08/2o18. Léa Cunha (MTb 1.633/BA)