A macadâmia foi introduzida no município paulista de Dois Córregos no final dos anos 1980 por iniciativa do empresário José Eduardo Mendes Camargo, filho e neto de usineiros, que à época também se dedicava predominantemente à produção de açúcar e álcool.
Ele conta que tomou essa decisão após uma viagem ao Havaí, onde visitou fazendas nas quais essa espécie e a cana-de-açúcar eram cultivadas de forma complementar. Fundou então a QueenNut, que em 1989 plantou as primeiras mudas em sua recém-instalada Estância Macadâmia, dando origem ao maior pomar do País, com 100 mil árvores ocupando 400 hectares, cuja produção deve totalizar 1.200 toneladas neste ano.
José Eduardo também é fundador e presidente da Associação Nacional de Nozes, Castanhas e Frutas Secas e embaixador, no Brasil, do International Nut and Dried Fruit Council (INC), entidade que representa o setor mundialmente.
A QueenNut tem estrutura verticalizada. Forma anualmente 50 mil mudas enxertadas para uso próprio e fornecimento a terceiros, aos quais também presta assessoria agronômica para implantação e condução de pomares. Junto à área agrícola, mantém uma unidade industrial, inaugurada em 1993 concomitantemente à sua primeira colheita. Essa unidade tem capacidade para processar mais de 2 mil toneladas de nozes por ano, beneficiando a produção da Estância Macadâmia e de 30 propriedades parceiras e ainda respondendo por sua comercialização nos mercados interno e externo.
Exportações prevalecem
Maria Teresa Egreja Camargo, esposa e sócia de José Eduardo, comanda as operações industriais e comerciais da empresa. Ela explica: “A macadâmia representa cerca de 1% do volume de nozes produzidas no mundo, mas seu valor corresponde a 2% dessa produção, daí o destaque que lhe é atribuído. Isso se deve não só ao seu sabor amanteigado e suave, com amplo uso alimentar, mas em especial às suas propriedades nutricionais e medicinais, pois é rica em ácidos graxos benéficos, como Ômega 3, 6, 7 e 9. Apesar dessas qualidades, seu consumo no mercado doméstico ainda é pequeno. Cerca de 80% de nossa produção é destinada ao mercado externo, tendo como principais destinos a China, os Estados Unidos, a União Europeia e países da América Latina”.
Adicionalmente, ela explica que os maiores produtores mundiais de macadâmia são África do Sul, Austrália, Quênia, China, Estados Unidos (Havaí), Guatemala e Malaui, vindo em seguida o Brasil e, depois, Vietnã e Colômbia. O consumo mundial de castanhas e nozes vem crescendo à taxa de 6% ao ano, de acordo com o INC, e a macadâmia é uma das mais consumidas.
O engenheiro agrônomo Leonardo Massaharu Moriya, gerente técnico da QueenNut, fala com entusiasmo sobre as características dessa fruteira, à qual se dedica há mais de 18 anos. Ele explica que a macadâmia é originária das florestas naturais do leste da Austrália. Nesse meio, para sua nutrição, desenvolveu raízes proteoides, ou seja, compostas por densos conglomerados de ramificações laterais curtas, que têm capacidade de explorar a camada orgânica superficial formada pela biomassa caída das grandes árvores, em especial os eucaliptos, também originários dessa região.
Leonardo acrescenta: “Essa característica de suas raízes tornou a planta pouco exigente em fósforo. Desse modo, a adubação com macronutrientes deve ter maior concentração de nitrogênio e potássio. Por outro lado, porém, a macadâmia é mais exigente em cálcio do que a média das demais culturas. Além disso, requer um bom fornecimento de água, sendo necessária a instalação de sistema de irrigação em pomares situados em regiões com períodos de déficit hídrico mais intensos”. Complementa: “De um modo geral, as nogueiras apresentam um bom grau de rusticidade e são longevas. Após o plantio, começam a produzir frutos aos 4 a 5 anos de idade, alcançam a maturidade aos 12 anos e permanecem produtivas até os 50 a 60 anos”.
Plantio – É feito com mudas enxertadas. Na QueenNut, as mudas são formadas predominantemente com um porta-enxerto de uma variedade desenvolvida no Havaí e três variedades de copas que se destacam pela produtividade e qualidade dos frutos. Após 18 meses de desenvolvimento em viveiro, as mudas estão prontas para serem levadas a campo.
Manejo – Na condução do pomar, em especial na fase inicial, até que comecem a produzir, as plantas requerem irrigação e adubações frequentes. Nessa etapa, é necessária maior atenção ao controle de plantas daninhas e formigas cortadeiras, e devem ser efetuadas de forma adequada as podas de formação. Na fase adulta, quando as plantas entram no ciclo reprodutivo a partir do quarto ou quinto ano após o plantio, a aplicação de adubos foliares garante melhor pegamento dos frutos. O controle de plantas daninhas é especialmente necessário na fase da colheita, deixando a projeção das copas das árvores limpas.
Floradas – As plantas emitem floradas de junho a agosto, período em que ocorre a polinização (por meio de abelhas, pelo vento e por autopolinização). Com isso, a formação e a maturação dos frutos não ocorrem simultaneamente, estando prontos para colheita a partir de janeiro do ano seguinte, prolongando-se até março e abril, quando há maior concentraçao de frutos maduros.
Colheita – Os frutos são compostos por três camadas: a externa é o carpelo, verde na fase inicial, tendendo ao marrom quando amadurece e se abre; a intermediária é a casca, muito dura, lisa e marrom; e a interna é a amêndoa, de cor creme, rica em óleo e propriedades nutritivas. A colheita deve ser realizada recolhendo-se os frutos maduros que caem ao solo. Essa operação deve ser repetida pelo menos a cada 15 dias, para evitar que os frutos percam qualidade.
Pós-colheita – Após o descarpelamento, ou retirada da camada externa, os frutos em casca são selecionados, eliminando-se os que apresentam escurecimento, trincas, furos ou são imaturos. Na sequência, as cascas são quebradas e separadas das amêndoas, que seguem para as etapas de processamento e armazenamento.
A macadâmia desempenha importante papel no sequestro de carbono e, adicionalmente, se presta ao plantio consorciado com outras lavouras, como a de café. Nesse sentido, está em andamento há 13 anos uma pequisa conduzida pela APTA Regional da Bauru, SP, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em parceria com a UNESP/Botucatu.
Em paralelo, a cultura apresenta maior resistência natural a doenças e pragas. No entanto, são necessários cuidados com algumas espécies de insetos e ácaros. Nesse sentido, em setembro de 2022, foi realizado na Queen Nut um dia de campo conduzido por pesquisadores da empresa e da Embrapa Meio Ambiente, quando foram demonstrados os resultados dos projetos InsetoNut e FitoNut para produtores paulistas. Além disso, foi abordada a importância da polinização para a produção de macadâmia. Informações mais detalhadas sobre esse evento e os programas citados podem ser acessadas no link: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/76257172/produtores-de-macadamia-recebem-orientacoes-sobre-como-evitar-problemas-fitossanitarios-aumentar-a-produtividade-e-prevenir-danos-de-pragas-exoticas,