AUTOR: Dr. Sergio Fernando Sartori, médico; colecionador e estudioso de frutíferas
27 de março de 2020
Andando pelo pomar diversificado na Estância das Frutas, com 34 cultivares de goiabas e olhando sob o ponto de vista de coloração das frutas e flores, pensei em fazer cruzamentos, começando inicialmente pelas Goiabas Roxas e as Goiabas sem Sementes (de polpa vermelha). Foi escolhida então a Goiaba Roxa como mãe (linha baixa) e a Goiaba sem Semente, que na realidade possui sementes porém em menor número, como pai (via alta). Ambas são do gênero Psidium e espécie guajava.
As goiabeiras, apesar de serem nativas, apresentam coloração, tamanho, morfologia e grau de açúcar diferentes em outros países. O início dessa pesquisa foi em dezembro de 2018 e janeiro de 2019, quando as goiabeiras encontram-se em floração.
Quando o botão floral da Goiaba Roxa estava para abrir, ensacava-o com saco de papel manteiga, verificando-a de tempos em tempos (dias). Quando a flor se abria, eliminava a parte masculina (estilete e antera) e deixava somente a parte feminina (gineceu). Passava na goiabeira sem semente e verificava se a flor estava totalmente aberta. Transportava-a para a goiabeira roxa, que estava ensacada, retirava o saco de papel manteiga e fazia a polinização com movimentos circulares em torno da parte feminina (gineceu). À seguir ensacava-a novamente.
Foram mais de vinte polinizações, e continuei acompanhando o trabalho duas vezes por semana. O entusiasmo foi diminuindo à medida que os saquinhos ficavam gradualmente vazios ou com uma pequena fruta abortada em seu interior.
Até que, por fim, sobraram dois saquinhos de papel onde as frutas foram crescendo. No final, uma delas não vingou e somente uma amadureceu com um peso de aproximadamente 90 gramas. Voltei à goiabeira pai e verifiquei que o seu peso era de aproximadamente 140 gramas. Logicamente, como era de se esperar, esta fruta ficou com a coloração próxima da mãe, isto é, arroxeada.
As sementes foram plantadas em tubetes em março de 2019 e quando se tornaram plântulas, foram replantadas para vasilhames de plástico de 7 litros. Notei que cada planta adquiriu tonalidade diferente nas folhas variando de roxa, rosa e verde.
Em outubro de 2019, já com quase 1 metro de altura, foram plantadas definitivamente. Das 26 plantas, colhi três de diferentes frutas. Uma com ferrugem, outra com a casca carcomida pela ação das formigas devido ao açúcar e a terceira colhida para ser analisada.
Suas propriedades organolépticas mostraram que a fragrância pós-colheita ficou pouco acentuada, revelando sabor agradável com Brix de 12 e coloração rosa. As medidas foram: 9 cm longitudinal e 7 cm transversal. A polpa mediu 4 cm (2 cm de cada lado) e a polpa central (onde se localizam as sementes), 3 cm. Peso de 240 gramas e sem a presença de pragas, isto é, mosca-da-fruta e fungos.
Batizamos essa cultivar de Goiaba Estância devido todo o processo ter sido realizado na Estância das Frutas, em Rio Claro, SP. Após novos testes e a feitura de clones, acredito que esta cultivar poderá fazer parte do cardápio das pessoas.