(Redação do Site Inovação Tecnológica – 05/01/2017)
A tecnologia não tem solução para tudo: na verdade, algumas vezes, pode ser necessário dosar a utilização da tecnologia em benefício do próprio homem. Se isso não for feito, corremos o risco de perder todos os avanços obtidos nas técnicas agrícolas, que permitiram a ampliação revolucionária da produção no último século e que permitem alimentar ao menos a maioria dos mais de 7 bilhões de habitantes do planeta.
O que precisa ser feito é garantir o futuro dos insetos polinizadores, como abelhas, moscas e vespas. Eles estão diminuindo a um ritmo preocupante. E, ao que parece, sobretudo pela ação humana.
As abelhas (na foto, Xylocopa sp) são essenciais em grande parte das culturas agrícolas – mas elas não contam com qualquer proteção, por exemplo, contra os agrotóxicos. [Imagem: Dino Martins]
Serviços de polinização
Os governos contam com vários meios de ação, entre eles regulamentar e controlar o uso de pesticidas, fomentar a diversificação dos sistemas de agricultura e criar sistemas de monitoramento de longo prazo. Infelizmente, os sinais de que as autoridades estejam de fato fazendo isto ainda são escassos. Então talvez seja preciso dar mais opções aos governantes.
Em um artigo publicado na revista Science, uma equipe de pesquisadores sugeriu dez maneiras claras pelas quais os governos podem proteger e garantir os “serviços” de polinização vitais para a produção de grãos, frutas, legumes e óleos. No artigo, eles listam confirmações de declínios em grande escala nos polinizadores selvagens em curso no norte da Europa e na América do Norte.
Prioridade: gestão dos agrotóxicos
“Exortamos os governos a analisar nossas propostas políticas e a considerar se eles podem fazer estas mudanças para apoiar e proteger os polinizadores, como parte de um futuro sustentável e saudável para a humanidade.
“A agricultura desempenha um papel gigantesco. E, embora seja parcialmente responsável pelo declínio dos polinizadores, também pode ser parte da solução. Práticas que amparem os polinizadores, como a gestão dos ambientes para fornecer alimento e abrigo para eles, devem ser fomentadas e apoiadas. Nós também precisamos dar atenção ao financiamento público de pesquisas para melhorar a produtividade de sistemas agrícolas como a agricultura orgânica, que sabidamente ampara os polinizadores.
“A pressão para aumentar os padrões regulatórios internacionais dos pesticidas deve ser uma prioridade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) têm trabalhado há muitos anos para desenvolver um código de conduta global sobre a gestão de pesticidas, mas ainda há muitos países que não seguem esse código. Isso significa que pesticidas inaceitavelmente tóxicos para as abelhas, aves, até mesmo para os humanos, estão em uso generalizado,” resumiu Lynn Dicks, da Universidade de East Anglia, de Norwich, Inglaterra, um dos autores do artigo.
Uma das propostas é que os agricultores tirem proveito dos “serviços” naturais – das abelhas, por exemplo -, em vez de usar agroquímicos. [Imagem: Dino Martins/Catalina Angel]
Como salvar os polinizadores e a agricultura
As dez políticas sugeridas para proteger os polinizadores, a produção de alimentos e, em última instância, os humanos, são:
“O mundo está acordando para a importância de proteger esses polinizadores vitais. Esperamos que, indo um passo além e implementando essas oportunidades políticas prioritárias, podemos encorajar os tomadores de decisão a agir antes que seja tarde demais. Três quartos das culturas alimentares do mundo se beneficiam da polinização animal, por isso devemos proteger os polinizadores para salvaguardar o fornecimento de alimentos,” finalizou Simon Potts, da Universidade de Reading, coautor do alerta.
Bibliografia:
Ten policies for pollinators: What governments can do to safeguard pollination services
Lynn V. Dicks, Blandina Viana, Riccardo Bommarco, Berry Brosi, María del Coro Arizmendi, Saul A. Cunningham, Leonardo Galetto, Rosemary Hill, Ariadna V. Lopes, Carmen Pires, Hisatomo Taki, Simon G. Potts
Science
Vol.: 354, Issue 6315 975-976
DOI: 10.1126/science.aai9226