05/09/2011 – Agência Sebrae de Notícias
Os envolvidos na cadeia produtiva do açaí nos estados do Pará e Amapá irão receber, a partir de setembro, orientações de boas práticas, desde a produção e colheita até o processamento da fruta. Trata-se do Programa Alimento Seguro (PAS), customizado pela primeira vez para o setor da fruticultura, como já aconteceu anteriormente com o setor produtor de leite e de mel.
A nova metodologia e as cartilhas elaboradas serão validadas nos próximos meses junto ao público-alvo formado por produtores rurais, transportadores, comerciantes do fruto, batedeiras artesanais do açaí e agroindústria. O programa deve ser nacionalizado no início de 2012, chegando aos demais estados produtores como Amazonas, Maranhão e Rondônia.
O objetivo do PAS Campo – Açaí para Processamento é melhorar a qualidade e segurança da fruta, segundo explica a coordenadora nacional da carteira de Fruticultura do Sebrae, Léa Lagares. O programa tem abordagens e públicos diferenciados. São eles: Boas Práticas Agrícolas (BPA), voltado para o campo; Boas Práticas de Transporte (BPT); Boas Práticas de Fabricação (BPF), com foco nos batedores da fruta; e o Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) e as BPF, disponibilizados para as agroindústrias. Os estados do Pará e Amapá foram escolhidos como projetos pilotos para aplicação da nova metodologia porque concentram 95% do açaí produzido no país.
De acordo com Léa Lagares, o trabalho de implantação e validação da metodologia no Pará e no Amapá acontece nos próximos sete meses, período que coincide com a preparação de colheita da próxima safra. “A ideia é que os produtores façam a próxima colheita seguindo as novas orientações”, afirma. Estima-se que apenas na região metropolitana de Belém, no Pará, existam cerca de 2 mil batedores, sendo que no período de safra este número chega a 4 mil.
O PAS Açaí pretende viabilizar medidas para resolver, por exemplo, o problema da contaminação da Doença de Chagas, por meio da ingestão do açaí contaminado com fezes do barbeiro. “O bicho deixa resíduos no cacho da fruta. Se não há cuidado com a higienização, pode haver contaminação de todo o alimento produzido”, afirma a coordenadora do projeto pelo Sebrae, Hulda Giesbrecht. Outro ponto que ela destaca é a questão do transporte. Geralmente o açaí é produzido em áreas alagadas e seu transporte é feito por barcos, muitas vezes em porões sujos de outros carregamentos como o peixe. É preciso higienizar esses espaços, informa Hulda.
O PAS é um programa desenvolvido para disponibilizar instrumentos de boas práticas e controles, tendo em vista as exigências mais rigorosas dos mercados consumidores, principalmente os externos, que estabelecem rigorosos padrões de segurança e qualidade.
Novas perspectivas
A Cooperativa Agroextrativista da Veneza do Marajó (Copavem), localizada no município de São Sebastião da Boa Vista, na Ilha do Marajó (PA), conta diretamente com 38 produtores associados. Eles são responsáveis por abastecer semanalmente a capital Belém, com mais de 900 quilos de açaí. O produtor e presidente da cooperativa, Joferino Freitas Freire, conta que há três anos o grupo participou de um projeto de fruticultura do Sebrae.
“Nesse período, recebemos o repasse de informações sobre boas práticas. Hoje os produtores manipulam o açaí utilizando luva, touca, máscara e blusa de manga comprida, o que não acontecia antes. Também houve mudança na hora de colher o fruto, que antes era apoiado no chão, e hoje é armazenado sobre uma lona, evitando o contato com a terra”, conta.
Todos esses cuidados renderam ao grupo de produtores contrato para fornecer, até 2013, a fruta in natura para as escolas públicas do município e entorno. O nosso diferencial com relação aos outros produtores foi justamente a atuação no mercado com base nas boas práticas. Esse cuidado se reverte também na valorização do açaí no mercado. A cada lata da fruta com 14 kg que vendemos, recebemos um valor líquido de R$ 13. Os outros produtores recebem bruto o valor de R$ 10, destaca o produtor.