Autor: Luiz Carlos Donadio
Da espécie Citrus sinensis, as laranjas doces podem ser agrupadas em quatro categorias: comuns, de umbigo, de baixa acidez e sanguíneas. O grupo das de umbigo é o que tem maior número de variedades apirênicas, ou seja, sem sementes, embora os demais grupos também as tenham. As variedades dos demais grupos usualmente têm de uma a 20 sementes por fruto, se ndo considerado apirênico o fruto com até duas sementes. Essa característica, aliada a outras, faz com que a ausência de sementes seja uma característica muito importante, principalmente para consumo ao natural, além de sabor, doçura, textura e outras qualidades organolépticas da polpa e do suco. As variedades de laranja de umbigo têm flores sem pólen fértil e os óvulos são defectivos, características presentes também em outras variedades, o que dificulta a formação de sementes, que podem ocorrer se houver polinização cruzada, mas em proporção mínima.
As laranjas de umbigo já tinham sido relatadas na Europa, no região do Mediterrâneo, mas sua descoberta no Brasil, na Bahia, como um possível mutante da laranja Seleta, introduzida de Portugal, deu origem a muitas outras variedades mundo afora, como nos Estados Unidos, onde foi denominada Washington Navel e daí chegou a outros países, como África do Sul, Espanha, Austrália, Argentina e Uruguai.
Assim a nossa Bahia (também denominada Cabula ou Baiana), com características pouco diferentes na planta de outras variedades de laranjas doces, tem copa maior (com exceção das sobre cavalo de trifoliata), arredondada, folhagem abundante, produção mediana, época de maturação de meia estação, frutos esféricos, cor laranja forte, peso médio de 200 a 270 g, pois têm clones diferentes. O Ipeal, da Bahia, tem peso médio de 198 g, medindo 7,29 cm de altura e 7,29 cm de diâmetro, enquanto o Cabula tem em média 268 g, com altura e diâmetro próximos a 8 cm, avaliados na antiga Estação Experimental de Limeira (EEL), hoje Centro de Citricultura Sylvio Moreira (CCSM). Os frutos são sem sementes, com 44% de suco, média de 10,31 graus brix, acidez de 1,01%. Outros clones, como Itacuruçá, Jacinto, Retiro e Valente, têm dados médios próximos aos citados, enquanto Monte Parnazo tem tamanho menor de fruto, já próximo ao da Baianinha, mas com qualidade inferior.
Bahia
A Baianinha foi selecionada por Sylvio Moreira e a equipe científica da Genética da ESALQ, na década de 1950, para obter uma seleção com fruto menor, mais adequado à exportação. Os clones IAC 48 e IAC 79 foram selecionados mais tarde, no mesmo trabalho. Esses clores têm altura de copa média de 4,10 m e diâmetro de copa de 3,44 a 3,75 m. Apresentam alguma alternância de produção, com número médio de sementes por fruto de 0 a 0,79 e flores sem pólen viável. A espessura da casca do fruto foi em média de 5,39 mm no clone IAC 48, que foi o mais produtivo, enquanto o IAC 79 foi mais precoce. A qualidade do fruto é muito boa, com açúcares acima de 10 graus brix, acidez menor que 1% de suco de 40 a 50%, peso médio do fruto de 225 g.
Devido à tendência de sofrer mutação, as laranjas de umbigo deram muitas variações que foram selecionadas em outros países, tais como Australia, Espanha, Estados Unidos, Itália, Venezuela e outros. Assim, na Espanha tornaram-se comerciais a Navelina, mais precoce e a Navelate mais tardia, entre outras. Na Australia a Leng e Lanelate, nos Estados Unidos a Newhall, e Smiths’ Early, possível mãe da Navelina; na Venenzuela a Cara Cara, em San Diego, estado Carabobo. Fruto com 254 g, de polpa vermelha, devido ao licopeno, como nas falsas sanguíneas. Todas essas variedades tornaram-se comercias em seus países de origem e em outros, devido suas boas qualidades, incluído a precocidade ou produção tardia que foi muito importante para ampliar a oferta de mercado das laranjas de umbigo, sem sementes. Variedades do grupo comum como Salustiana, Valência late, Shamouti, e mutações de Valencia, como Natal, Delta, Midknight e outras ampliaram a produção mais tardia. No Brasil tem a concorrência da nossa Pera Rio, que tem poucas sementes e ótima qualidade do fruto, servindo para consumo ao natural e para indústria.
FONTES: Variedades cítricas brasileiras (Donadio L. C,; Figueiredo, J. O de; Pio, R. M.)
Cultivares apirênicas de citrus recomendadas para o RS (Oliveira, R. P.; Nakasu. B. H.; Scivittavo, W. B.)
Caracterización morfológica del naranjo Cara Cara. (Monteverde, E. E. Ruiz, J. R. ; Rodriguez, M.)
PARA ACESSAR ARTIGO COMPLETO COM FOTOS: Artigo Laranjas doces apirênicas